Thursday, March 30, 2006
bishop / hilst
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Dali
No teu cabelo negro brilham estrelas
cadentes, arredias.
Para onde irão elas
tão cedo, resolutas?
- Vem, deixa eu lavá-lo,
aqui nesta bacia
amassada e brilhante como a lua.
Elizabeth Bishop
- Fragmento do poema - O banho de xampu.
- tradução Paulo Henriques Brito.
Poemas do Brasil, Cia. das Letras, 1999 - São Paulo, Brasil
*
Colada à tua boca a minha
desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas
escomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te
sôfrega
Como se fosses morrer colado à
minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do
amanhecer.
Hilda Hilst
Wednesday, March 29, 2006
da saudade
DA SAUDADE
Seguir o fio de Ariadne.
Em asas de Ícaro
singrar, desertar.
- 0 sol não derreterá
minhas asas de sonhos
-Abraçar-me-á –
calor de pele morena.
Solidão deste labirinto é fugaz.
Madrugada longa.
Solidão de gelo.
Amanhã – o amanhã sempre chega.
A saudade será – granizo.
A felicidade – pedra.
Bárbara Lia
Saturday, March 25, 2006
barco de lia no rio de cora
hugo pratt
BARCO DE LIA NO RIO DE CORA
No escuro escrevo como quem
adora
teu olhar que o passado inteiro
descora.
Zero duplicado em infinito
ancora
- istmo - o oceano dos medos
deflora,
rasga em amor, imprime a tatuagem
canora.
Seres do Olimpo a ressuscitar
Pandora.
Amor - linha e linho - como Gil e
Flora.
Teu, meu corpo banhado em tesão na
aurora.
Teus, meus versos banhados no rio de
Cora.
BÁRBARA LIA
Friday, March 24, 2006
leonardo boff
- Sustentabilidade e Ética - Frei Leonardo Boff.
Aprendendo no Fórum Global da Sociedade Civil, sentindo que a vida é muito mais. Frei Leonardo Boff findou falando do arco-íris, tomei a maior chuva na volta prá casa, e mal entrei em minha sala, que descortina um céu só meu - havia um arco-íris.
'SUSTENTABILIDADE E ÉTICA'
Bárbara
Lia
Dentro do Fórum Global da Sociedade Civil –
Cujo lema é: Bem-vindo ao mundo real. Nesta manhã de quinta-feira, Frei
Leonardo Boff fêz uma palestra cujo tema era – Sustentabilidade e Ética, quase
toda a fala está reproduzida, de um pensamento lúcido e iluminado, que levou a
platéia a um longo aplauso, ao final das palavras de Leonardo Boff:
Sustentabilidade está associada, nos últimos
anos, ao tema – desenvolvimento sustentável. É como está nos documentos
oficiais. Desde o começo esta expressão é um engodo. Esta expressão
associada à economia capitalista que se fixa sempre em três aspectos:
- aumentar a produção.
- potenciar o consumo.
- gerar riquezas.
Para isto ela devasta a natureza e cria
desigualdades sociais. Esta economia consegue separar a economia da política,
ética e sociedade. Agora a política é controlada pela economia, a economia é
como um lobo no meio de ovelhas – devora. Explora de forma ilimitada o planeta
Terra, de uma maneira devastadora e faz desaparecer 3.000 espécies/ano. Este
sistema vive de duas ilusões – dois infinitos. Imaginar que os recursos são
infinitos; e que podemos nos desenvolver infinitamente.
Jacques Chirac disse em Johannesburgo, no
evento Rio + 10 – Se quisessemos universalizar este modelo, precisariamos de
mais 3 Terras iguais a esta.
Jaques Lovelac, autor do livro – A vingança de Gaia – escreveu: "Ou
nós mudamos ou vamos conhecer o destino dos dinossauros"
O ser humano com o sistema capitalista se comporta como um meteoro rascante
que pode destruir vastas dimensões da natureza.
São assustadoras as revelações que estão detalhadas no Relatório de
Avaliação Ecossistêmica do Milênio, encomendado pela ONU a 1.300 cientista do
mundo todo, algumas conclusões como estas:
- As atividades antrópicas estão mudando de forma irreversível o cenário
na vida do planeta Terra, é improvável que se sustente por muito tempo...
Cada dia mais pensadores, políticos e ecologistas se dão conta do que
enfrentam... Nós seres humanos, ocupamos 83% do planeta e ocupamos devastando.
Precisa-se de uma coalisão de forças ao redor de nossos valores. Um novo
paradigma civilizatório. A forma atual vai nos levar a um impasse se não
tomarmos medida agora, entre 2.030 e 2.035 a Terra não será mais sustentável,
com mudança no clima e milhões de vitimas.
A palavra Ética nunca fez tanto sentido. Do grego – Ethos – que
significa – A morada humana.
A casa humana não é nosso apartamento, é o planeta. A Ética tem que
contemplar esta casa. Construimos uma máquina que pode destruir a espécie.
Construimos 25 armas quimicas e biológicas, nós como espécie humana, podemos
desaparecer.
Existem dois documentos que comportam este debate. Um documento é o
Manifesto por la vida - por una Ética
por la Sustentabilidad, E a Carta da
Terra, que entre 1.992 e 2.000, envolvendo 42 países e populações, a partir de
uma pergunta: - O que vocês querem da Terra? Este documento foi assumido pela
UNESCO. Estes dois documentos se preocupam com alternativas. Uma Ética
diferente da realidade, que nós aqui, em grande parte dos presentes
compartilha:
- Visão holística de que não estamos sozinhos sobre a Terra. Todos os
seres vivos usam este espaço.
- A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A terra é um
super-organismo vivo e nos deu condições para que surgisse a vida e a
reproduzisse. O ser humano é parte desta comunidade de vida, da bactéria
originária, passando pelos dinossauros e colibris, até o homem possuem os
mesmos 20 aminoácidos e 4 bases contastadas.
A missão do ser humano, como está no Gênesis, é ser jardineiro do éden.
Especialmente nos últimos anos temos nos comportado como Satãs. Edmundo Wilson
escreveu em seu livro – O futuro da vida: “Nós transformamos o Jardim do Éden
em um matadouro”.
A Ética da Sustentabilidade é uma Ética para renovação da
sustentabilidade da vida.
A nova Ética salvadora se funda em 4 Princípios e 4 Virtudes:
Princípios:
1.
Afetividade.
Dar centralidade à afetividade e à sensibilidade. Qual é a estrutura da
base última do ser humano? A razão (logos) é a sua essência, mas a capacidade
de sentir (pathos) é a estrutura da base do ser humano, é a afetividade. Somos
empíricos, a primeira reação do ser humano em contato com a realidade é o
sentimento, só quatro segundos depois é que a razão desperta. Sofremos uma
lobotomia que nos impede de tomar medidas em benefício dos que morrem de fome.
2.
Cuidado
Tudo o que vive precisa de cuidado. Se o ser humano for abandonado
depois que nasce – morre. A vida exige cuidado. Os ecossistemas, as águas. Até
a própria morte exige cuidado, bem como a nossa espiritualidade. O projeto
maior do Ministério do Meio-Ambiente é – Vamos cuidar do Brasil.
3. Cooperação
Lei suprema do Universo. Dizem os cosmólogos e fisicos quânticos, contra
Darwin – A cooperação é a lei suprema do processo da evolução. Tudo tem a ver
com tudo. O mundo é feito de uma rede de relações, ninguém fica fora, desde os
primeiros top-quarcs e átomos que se relacionaram, até os dias de hoje. Os
ancestrais antropóides não comiam como animais, cada um para si. Eles dividiam
entre eles, e foi a cooperação que desenvolveu a Humanidade.
4. Responsabilidade
Dar-se conta da consequência de nossos atos. Com relação aos
transgênicos, não sabemos o que pode acontecer em nosso organismo em contato
com essas bactérias, os transgênicos podem atrapalhar o equilíbrio de nosso
corpo. Quando algo se desestabiliza, recebemos sinais, e não sabemos se os
transgênicos não podem alterar as bactérias que nos avisam da gripe ou de
qualquer outro erro em nosso sistema interior.
Quatro são as virtudes necessárias a partir destes princípios:
1.
Hospitalidade
Emmanuel Kant em seu último livro – Paz Perpétua – foi o primeiro que
pensou a globalização. Hoje existem trezentos milhões de refugiados por razões
políticas no mundo, não recebendo hospitalidade, vivendo em navios, em
acampamentos. A primeira virtude do ser humano – a hospitalidade.
2.
Convivência
Nós náo existimos. Nós coexistimos. Todos os seres possuem história, tem
um jeito próprio de se relacionarem uns com os outros. Devemos pensar não só o
pacto social, mas o pacto natural. A harmonia entre nós e a harmonia da
natureza. A Democracia não pode ser
antropocêntrica, tem que ser sócio-cósmica. A cultura ocidental nunca teve
abertura para o outro – a Hamburguerização do mundo.
Nossa cultura ocidental não se encanta pela diferença, ela a elimina.
3.
Respeito
Todos os seres são mais velhos que nós. 98% da Terra existia quando
surgiu no cenário o ser humano. Nào estamos sobre os outros seres. Mas, na
mesma casa. Albert Scheitzer o médico suiço que foi viver na África e construiu
hospitais, grande pensador, que deixou esta lição – Ética é responsabilidade
por tudo que existe e vive, pois tudo que existe e vive merece ser respeitado.
4.
Comensalidade
Poder comer. Poder sentar à mesa e desfrutar do que a Terra dá. Sermos
comensais. Enquanto os seres humanos não tiverem a garantia da comensalidade,
não vamos ter sustentabilidade.
Estes princípios fundam uma nova espiritualidade. Um novo sentido de
vida. Uma nova cultura de paz. A paz perene, grande anseio do ser humano, que
está longe de ser alcançada. Mas, que pode alterar a vida na terra, em um
arco-íris que vai cobrir a todos. Como está escrito – Quando virdes este sinal,
nunca mais o dilúvio.
Bárbara Lia para o site Vejo São José
Friday, March 17, 2006
garcia lorca
Friday, March 10, 2006
emily dickinson
Wednesday, March 08, 2006
porão loquax - wonka bar
Ontem no Wonka Bar - dentro do projeto Porão Loquax, concebido, executado com raça pelo poeta Mário Domingues, Melina Mulazani interpretou poemas inéditos de meu livro inédito. Uma catarse, apoteose lírica, muito linda. Uma feliz coincidência de adentrar o dia das mulheres, duas guerreiras bárbaras no palco, impossível não dedicar o recital às mulheres. Um abraço de carinho em quem esteve lá, e ouviu os cantos bárbaros, e dividiu a bela noite, de poesia e pizza de pão sírio... Registro do primeiro evento solo da Bárbara, da força que é a palavra quando salta das páginas e de tanta coisa boa, prenúncio de que muitas coisas vão passar por um rio de luz, assim, feito a XV - minha rua - na madrugada clareando meu Stalingrado coração.
cantos bárbaros - porão loquax
MELINA MULAZANI - CANTOS BÁRBAROS - PORÃO LOQUAX -
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- Melina Mulazani - Atriz, cantora, integrante do grupo Mundaréu - criado em 1997 na cidade de Curitiba- PR, é formado por músicos, atores, dançarinos, bonequeiros, pesquisadores e arte educadores, que com seus cantos, suas plasticidades, suas danças, teatralidades e contos, divulgam a arte popular brasileira.
Saturday, March 04, 2006
porão loquax 07.03.2006
Friday, March 03, 2006
ana cristina cesar
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Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda.
- Ana Cristina César (1952-1983)
A teus pés - Ed. Brasiliense
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Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
(T. S. Eliot)
Thursday, March 02, 2006
the dreams
THE DREAMS
Eu tinha dezessete (eu tive dezessete)
Asas resvalando paredes de um quarto
voz mortiça murmurando em engasgos:
home along the line of the skyway
for this dark and lonely room
projects a shadow castin’ gloom…
Eu tinha dezessete, esperança sempiterna
(Rasgaram em vão o ódio os que tentaram
matar em minh’alma a habitante mais antiga,
da caixa mais antiga)
Asas em mim, sempre esperando o dia
farfalhar em estardalhaço
das asas a rasgar as paredes negras
Fly away, skyline pigeon fly
Towards the dreams...
As pombas pisam as pedras da Praça Tiradentes,
o homem magro alimenta o bando que chega em vôos
_ alegoria bela _ o voo em coreografia de abismos
O céu baixou ao chão da minha cidade
posso enfim caminhar na linha do horizonte
bebendo poesia, recolhendo dos galhos das árvores:
The dreams...
The dreams...
The dreams...
BÁRBARA LIA
- em negrito - trechos de skyline pigeon fly
elton john
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