Saturday, September 09, 2006

capote






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Truman Capote - 1947 -
foto: Henri Cartier-Bresson
Ver o filme - Capote - dirigido por Benett Miller, ressuscitou as leituras da infância, quando eu me atirava na cama e devorava a revista X-9. A revista era macabra, até hoje não compreendo como meu pai permitia que uma menina de nove ou dez anos embrenhasse por uma sucessão de assassinatos desvendados pelo FBI, que permeavam as páginas amarelas da revista. Era a minha parte preferida da revista, como uma detetive colada à pele dos legistas eu permitia que minha intuição, mente e anseio transmigrasse para cenas de crimes hediondos, arrepiantes e até mesmo fantasmagóricos. Na maioria, crimes cometidos nos anos cinquenta, quando não havia exame de DNA, mas, havia uma investigação capaz de se ater a detalhes preciosos que permitiam chegar ao assassino. Aquilo devia ser mesmo minha veia de escritora, escrutinadora, devassando a mente humana. Truman Capote ficou visivelmente abalado com o episódio mostrado no filme. Quem não ficaria? Não é uma revista, ou uma reportagem televisiva. Ele sentou ao lado do assassino, envolveu-se com ele. Ele viu os mortos e suas feridas, ele sentiu o respirar da absurda falta de sentido que norteia a alma humana. Até que ponto somos anjos ou demônios? Até que ponto este fio tênue pode se romper? O ator Philip Seymour Hoffman foi crucial para este filme, de alguma forma, foi a figura que eu recolheria dentre as páginas amarelas do passado. Ele e sua amiga escritora, entraram no túnel do tempo e se tornaram personagens perfeitos do drama. Aquela casa branca entre árvores de inverno, o rumo que ele deu à sua vida após aquela idéia. Escrever o romance que muda uma vida, e que faz parte da história tem um preço. Truman Capote pagou este preço, a sangue frio. Não me lembro quem escrevia aquelas narrativas da X-9, eram mais que filmes arrepiantes de suspense, era a grama fria e molhada ainda com as pegadas do assassino, o bafo da morte escorrendo das paredes, era mesmo dilacerante como faca de gelo nas artérias, e eu sempre busquei as emoções fortes na vida, no amor e em tudo. Afinal, existe um leque de caminhos, e ficar escondido no escuro é a parte mais chata de toda a história.

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