AVES DE ARREBENTAÇÃO
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Pássaros renascentistas
Libertados por Da Vinci.
Invadem as minhas pálpebras
Que meditam em silêncio
De monja
Louvam as aves
Do terceiro milênio.
Mão destra de Leonardo
Pinta o sorriso
De uma Monalisa escura
A aurora ausente
Do meu olhar
Que ele colore
Com luz de Florença
E sobre músculo sofridos
Estriados de saudade
E febre de amor
Pulsa a inocência poética
Das mulheres que venceram
O jugo secular
E cruzaram as linhas
E romperam os laços
E abriram os braços
Aves de arrebentação
A flanar entre
As azaléias púrpuras
E o grito ardente
De libertação.
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CHIAR(O)SCURO
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Hora suspensa. Horizonte de sangue.
Despediu-se o sol, não brilha a lua.
Despediu-se o sol, não brilha a lua.
Barcas estremecem em marés de fogo.
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Sinos dobram a Ave-Maria.
Sinos dobram a Ave-Maria.
O Bem chora a evaporação do dia.
Lágrimas de anjos pela humanidade crua.
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Encontro e fuga de almas no ocaso,
Encontro e fuga de almas no ocaso,
Bebendo o sangue solar – poção
De luz para os dias de aço.
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Crepúsculo incendiado.
Crepúsculo incendiado.
Átimo de esperança: Um Serafim alado,
Flauta de estrelas flana acima de algas e corais.
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Toca a música divina estremecendo cristais.
Toca a música divina estremecendo cristais.
(Jazz, blues, salsa cubana, sinfonia?)
Som azul unindo sangue celeste e marinho.
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Som azul unindo sangue celeste e marinho.
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Serafim, flauta e sol
Evaporam em silêncio de prece.
A branda noite abraça o arrebol.
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O eco da flauta aos puros adormece.
O eco da flauta aos puros adormece.
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BEM-TE-VI
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Ramagem arranha janela.
Sonho: Aeroporto fantasma.
Espíritos de náufragos do Titanic.
Ku Klux Kan ateando fogo ao enforcado.
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Seqüência horripilante:
A mulher sem olhos na cama,
entre lençóis úmidos de chuva.
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Acordo com o bem-te-vi
na manhã de sol
na mesma paisagem.
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DEUS SORRINDO NA VARANDA
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O quintal de Deus é o céu.
Um paraíso em uma ilha.
Alcançaremos quando formos náufragos.
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Aguaçal encoberto de dor,
nascituro rompendo em harmonia a eternidade
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- Deus sorrindo na varanda.
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BRISA
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Entardecer lilás
brisa de raro fôlego
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do deus das nuvens.
Pés descalços
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liberdade de estar amando
na era dos mísseis.
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BÁRBARA LIA
- Poemas do livro “O sorriso de Leonardo” – Kafka edições baratas. - 2004
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