Saturday, April 11, 2009

estante # 15 e um poema para joão filho e állex lélia

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Deus é a chuva.
Só seu abraço líquido
me faz leve.
-Uma tarde na volta do colégio
o vendaval molhou cada poro meu,
encharcada de Deus entrei na panificadora
e era só alma
- o pão pesava mais que eu-
Sei que Deus é a chuva
quando o mais belo som
é Ele abraçando a grama.
É um diálogo de amantes
como se os pingos em som de prazer
se unissem às pétalas rudes
pequeninas verdes,
e o som rascante do gozo fatal
se ampliasse, sem ferir.
É calmo o som do amor
-chuva na grama -
do livro - A última chuva.


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- o novo layout do blog sugere que nesta coluna de postagens diárias eu não coloque mais imagens para não poluir o visual. Em 2005 quando decidi criar um blog acreditando que ia ser a maior pedreira publicar um livro, quando decidi que era um espaço-vitrine para colocar meus poemas, não sabia que ia ficar assim - abduzida pelo azul - fiquei. Vez por outra eu penso em parar para utilizar melhor a água rara - o tempo - e terminar aqueles romances que escrevo. Quando vejo estou de volta ao chá para as borboletas, que eu mudei para -chapar as borboletas - o márcio claudino, meu irmão de caminho, foi quem primeiro disse que era mais bonito assim. Outro dia a maria de lourdes jaude me procurou pois alguém leu um verso dela aqui na - chapada das borboletas - bem... a verdade é que estou guardando poesias para um livro novo e não posso publicar aqui o título nem resumo e nem mesmo a ideia dos novos livros - nem mesmo nada dos romances que vou mandar para estes poucos concursos e ficar mais um ano na espera... Escrever é isto.
Esta poesia eu fui buscar lá no livro - A última chuva. Dedico ao João Filho e Állex Lélia. Segundo eles a que eles mais gostaram deste livro.
Encarniçado é o meu livro raro ali na estante. O livro que colocou João Filho na mira dos olhares. Gosto MUITO da poesia do João Filho. Não há como acompanhar toda a produção nacional, mas, é certo que fatalmente paro tudo para ler as poesias do João. Quando abriu um edital do Itaú Cultural, há uns dois anos, até tentei preencher um projeto para uma bolsa de escritor e fui atrás do livro - Encarniçado - que eu sabia esgotado. Encontrei em um sebo e comprei e fui agregando outros livros com a idéia de traçar um paralelo entre jovens escritores e - Grande Sertão: Veredas - a influência de Guimarães Rosa na escrita destes moços. Bernardo Brayner estava no meu roteiro com seu livro - Exercícios de Morrer. Marcelino Freire e minha pequena seleção de jovens escritores ficou suspensa. Depois, João Filho confessou-me que sua escrita era mais próxima de Graciliano Ramos. Projetos totalmente descartados da minha agenda, este e outros. Vou escrever aquilo que verte assim, sem regras ou regulamentos. Um tempo eu ficava escrevendo para caber nas 130 páginas do Sesc Literatura, no espaço simples ou duplo, ou coisa que o valha... Agora eu primeiro concluo o livro para depois ver se ele cabe em algum regulamento... Sem pressa vou arquivando tudo no baú do futuro - difere muito do baú antigo de Emily Dickinson - Meu baú é um pen drive. Tudo na mínima arca. Olho para meus filhos e digo - se eu morrer meus arquivos estão aqui - morta de dor já em perceber o que um escritor é capaz de fazer para tentar manter o registro de sua alma. Sentindo-me uma canalha em ver dor no olhar de filho... Mas, a quem mais confiar estes escritos todos que jorram e me perco entre o labirinto deste infinito debulhado?... Tudo isto é para dizer que o item 15 da minha estante é o precioso livro - Encarniçado - do João Filho. E que não tenho publicado muita poesia pois estou selecionando inéditos para um novo livro. Breve farei o - Inventário da Biblioteca Invisível: Meus livros inéditos. .
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p. 29 - Encarniçado - João Filho. Ed. Baleia, 2.004:
Nenê
parideira. pariu duas vezes no ano. todo sábado esmolava seu café em pó no balcão da Venda. por que tinha certo ranço com ela? não manjas, mas sempre dava o café. dadeira. a prole a tiracolo, encurvada numa ossatura, fina-de-fome. piva dum macho por vezes. não-nascida na Maloca, veio de fora. tive ganas de chutá-la com meu rancinho-burgo de quinta. nunca o fiz, não por piedoso, invalia.
(...)
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blog do João Filho

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Um dedo de prosa

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