Tuesday, July 20, 2010

Camille Claudel


HAMADRYADE I



Poesia escrita com cinzel
Resquícios passados à pedra
a retirar das entranhas, risos
e guirlanda de nenúfares


Ninfa das árvores
tocada de abismo
a olhar o limiar trágico
acima dos lagos azulados


Hamadryade orgulhosa
retorna ao quarto escuro
brancas corujas no muro
no casarão da vida gloriosa


Crua beleza nua, Danaide
ouvindo as estrelas do Sena
um céu-verde claro sonoro
a levar a barca dos amantes...


...Trinta anos descolorem
rios
pedras
corujas. ..
Nunca os nenúfares!


Estes que rolam em cascatas
no castanho seda dos cabelos
e caem no lago do esquecimento
calcinando o ódio da menina
de Villeneuve-sur-Fére
Sepultada viva em Ville-Èvrard
sonha na cripta:


o café do Brasil
cerejas embebidas em aguardente
um pacote de amor de mãe
um beijo da coruja ausente



Esculpe em astros abrasados
o ódio ao amante hostil
dorme congelada.
Destroços abraçados
à uma tola estrela senil




HAMADRYADE II




Ária de adeus
nos lábios do amante
Guirlanda de Nenúfares
em cascata
Quando chega ao chão
petrifica o rio
Ninfa das árvores recupera
o tempo do amor ardente

O corpo imberbe que esculpias
Danaê alva no ateliê escuro
Corujas na vidraça
enganando o dia.

Bárbara Lia
Para Camille, com uma flor de pedra
ed. 21 gramas/2010

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