Ana & o Mar
Oito canhões na praça de guerra
Apontam para o peixe
Que traz a paz nas guelras
Quatro gaivotas suicidas
Lambem o babado azulado
Do triste mar-flamenco
Lembro um filme de Babenco:
Ana e o vôo
Mariposas no quarto lúgubre
Suas mãos em concha
A esmagar a eternidade insalubre
Bárbara Lia
Ilha do Mel - agosto / 2010
Fui pra Ilha com minha amiga Ilse, escrevo um novo romance no qual algumas cenas se passam na Ilha do Mel... Mar calmo e praia deserta. Na noite um vôo escuro acima de nossas cabeças, diante da pousada no banco rústico, em uma conversa impossível em outro lugar - sob um céu estrelado (não há estrelas na cidade) - meio tonta e quase tendo torcicolo eu passei algum tempo com a cabeça voltada para os astros... No dia seguinte dei de cara com o pássaro escuro e lúgubre - uma coruja - coruja que mora na árvore, segundo o menino esperto neto da dona da pousada... então, cá estamos de novo, a trilhar caminhos tentando tirar o passado de dentro das rochas, nas pegadas e nos grãos de areia, pra narrar um tempo, ficção que desabrocha dentro como rosa inevitável... Depois de um tempo de prosa e sem poesia, brotou a poesia acima, os oito canhões do Forte, as gaivotas e a lembrança de cenas de um filme que lembra um dos poemas do Pinduca que eu mais gosto... Vamos seguindo, escrevendo, trocando palavras, versos e planos com os amigos e tocando a vida com garra, como o verso do gonçalves dias que o pai repetia -
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
para Hector Babenco
morreremos loucos, Ana
os sapatos
novos
em cima da mala
— mala notte
o dia, a pior
foto: olhos úmidos
no vídeo
flashbacks:
a virilha imunda
do marinheiro
os eletrodos frios
nas têmporas
as pílulas coloridas
peixes
num aquário
cujo vidro
quase se quebra
toda vez
que o tocamos
sim, Ana
morreremos loucos
mas
esta noite
dormiremos
juntos