ele tem um jardim que estampa bem a frente da casa. dentro, o sol bate e faz as paredes ficarem com bastante vida por volta das 10 da manhã. mas é muito estranho, confuso e belo ao mesmo tempo, porque tudo foi deixado como ela gostava. Isaias Faria
Bright Star retrata o amor de John Keats e Fanny Brawne. A veracidade do filme nos acolhe, é possível sentir o farfalhar das borboletas em um quarto branco a lembrar a eternidade do amor. Como se o poeta assinasse um atestado de vida, assim como assinam a morte da carne em atestados ele assinou o de vida. O que morre? Nada morre, nem Keats, nem Fanny, nem a poesia. As falas colhidas como se eu habitasse Keats - O que ele fala sobre a poesia, o nascimento dela, como quem sabe - a poesia é uma experiência além do pensamento - "A construção poética é uma carcaça, uma fraude. Se a poesia não vem naturalmente, é melhor que não venha"
O mundo está contaminado pelos discursos milenares, pela hipocrisia, pela era do - brilho a qualquer custo - O poeta sabe que é uma experiência de dor, abrir seu ser para conter multidões... Ser um outro... O poeta sabe e Keats sabia. O POETA vive a respiração da dúvida, a certeza de que não é nada, a angústia dos passos que o cercam, a incerteza de tudo. Os passos gastos perfurando a neve. É certo que ele viveu um período romântico, mas, é para o agora cada palavra:
"O poeta não é nenhum pouco poético. É a coisa mais antipoética que existe. Ele não tem identidade. Ele preenche continuamente outro corpo..."
Título de livro é como nome de filho. Uma busca, uma dúvida e lá está - sem chance de retorno. Batizado. O que pensei nesta semana foi em algo inusitado. Uma segunda publicação de - O sal das rosas - ia ter um mudança pequena, uma mínima troca que eu já teria feito, caso tivesse lido há alguns anos o livro que leio agora - O funeral de Chopin, de Benita Eisler, ed. Planeta.
Na página 53 encontro a palavra. Lendo concentrada no ônibus para Paranaguá - terça - onde fui ver os monumentos e museus e bibliotecas para compor enredos e personagens do romance novo. Estava lá a palavra nova - ZAL. Eu mudaria o título de - O sal das rosas - pois cobriria de mistério e música com este adendo.
zal (essa palavra polonesa rica e intraduzível, carregada de todas as nuanças da tristeza, do arrependimento ao luto)
Andava com saudades de Chopin e foi muito especial ler um livro e conhecer sua vida de uma forma mais profunda. George Sand, Delacroix, Litz... E um lugar -Nohant- os amantes sempre tem um lugar, este espaço que se eterniza.
Eu vi o escasso tempo de malabarismos juvenis A estalar a seiva acidentada da tarde, A aurora pura entrelaçada ao meu próprio sono Nos instantes precários de um segredo vago.
Na oblíqua solidez dos corpos Abre-se a rosa inicial sem nome, turva e casta, Impura como a brisa imaculada dos sonhos, da voz, Em uma espécie de chamado.
Eu vi o estrondo de uma gloriosa infância, A alegria que em mim eram crianças cintilantes, Na tarde volúvel, onde o mar, em silêncio maior, Faz dos corpos uma presença errante.
Devo amar calado o triunfo crepuscular da juventude, Seus beijos ao mar e sua oferenda de mistérios, Na rosa oblíqua de um chamado puro, Na vastidão precária dos instantes. Eu vi tudo isso e amei, sendo eu mesmo uma oferenda eclusa
Aos mistérios juvenis, que desafiam os segredos do mar.
O silêncio dói muito mais na pele do inimigo que o grito. Pousa, assim, cálido, como uma resposta sem pontuação. Deita suave nas concavidades do ouvido. Desconserta. Hospeda pulgas atrás da orelha. Arma afiada Toque lancinante Estratégia zen Linguagem dos deuses da arte da guerra KAREN DEBÉRTOLIS
- poesia extraída da coluna - "A Genética da Coisa" do site Germina:
Na noite do lançamento de - Constelação de Ossos - a poeta Berenice Sica Lamas contou da poesia escrita após a leitura de - Solidão Calcinada - Inspirada na história de Pietra / Serena / Esperança e Bárbara. Recebi a poesia e publico. Estes diálogos que a Arte permite. A construção a partir da construção - o olhar sobre o olhar. A alegria com estes frutos pela passagem de - Solidão Calcinada - no Clube de Leitura -Rastros de um livro.
Poema das 4 geraçoes
Orfilia Rosa Marília Berenice linguagem força fragilidade
mulheres transgeracionais gerânio pêssego jasmim sombras e luzes umas sobre as outras leite mel e sal, historias (des)construidas
O ar raspando o sangue seco da alma. Alma mutilada a minha. Sangue incrustado em suas paredes desde a infância, algumas feridas já cicatrizadas. Minha alma um painel de Pollock. Onde ainda não cicatrizara, a tinta escorria espessa. Por muitas noites eu não dormia. A cor que mais doía era o amarelo aflito, aquele amarelo gritante.
Constelação de Ossos
Bárbara Lia
(Vidráguas/2010)
pg.35
Kandinsky
Pensei: vou morar em uma lágrima.
E vi cenários de Kandinsky atrás da cristalina dor. Vi os retorcidos rostos detrás dos espelhos d’água. Vi uma casa-banheira eu sempre líquida.
Vi um teto vidro fosco eu a olhar estrelas. E quando secasse a minha casa? E como secar meu coração?
Paris e um amor A voz de Piaf acorda As pedras de um beco: “C'est lui pour moi Moi pour lui dans la vie” Um passo uma dança O peito tísico abraça: Pele lunar de Jeanne - A musa sem olhos - Os bêbados rasgados A lua amassada E o triste passado Do menino de Livorno
Bárbara Lia
Kandinsky
Poetas gozam Cenas açucenas Lençol de Kandinsky Que cobre O sangue coagulado Da humanidade ferida A esconder a realidade Que rasga suas almas De madressilvas
Estrelas de Gil escorrem de seus dedos quando dedilhas o violão “Há de surgir Uma estrela no céu Cada vez que ocê sorrir...”
O Jarro d’água espelha os olhos mortiços do peixe preparado com esmero de gueixa: - Namorado para os namorados.
Esqueci o olhar da banhista; Esquecestes o assédio do surfista. Nosso amor é forte – almiscar. O pássaro azul do lençol se enche de angústia - Empalidece - sempre que me deixas. Bárbara Lia
Tuesday, September 07, 2010
CLARICE
Dois corações selvagens na selva do impossível tão perto que o respirar deles é transfusão de sangue. Depois da noite nuclear – amantes rompendo o ventre da laranja mecânica - a mostrar viva as entranhas do céu nego-me a escrever versos para amores lúgubres plenos de tédio de flacidez no olhar e no abraço no passo e no sorriso Depois de deus... quem me levará ao paraíso?
Prefiro o inferno na selva. Dois corações selvagens Perto Perto Perto
Bárbara Lia
- corações - arte de Ia Santanché
foto de Rebecca Loise - eu na madrugada curitibana
8. sonhei comigo sonho sob pórticos de luz tropical claridade verde que eu julgava ser o espelho onde esta face (agora inclinada sobre linhas toscas de recordação puramente imaginária) espelho onde esta face pudesse mirar-se com minuciosa veracidade
sonho de vaidade vácua que paraiso guardará a menor semelhança que seja com a cara inexistente que às vezes afivelo sobre a face para melhor me desvelar?
A Antologia "Helena Kolody / Newton Sampaio" à minha espera, na volta de Porto Alegre - grata a todos que estiveram na Palavraria pra receber este novo livro - Constelação de Ossos -
Em 2009 foi na categoria Conto que obtive destaque e nesta edição anual dos Concursos Literários da SEEC/PR - está o meu conto Mulher na Árvore, publicado no Portal Cronópios:
Fernando Ramos, editor do Jornal Vaia, organizador do Festipoa, admiro este moço!
Ana Cristina Gonzales, eu, Sidnei Schneider e a editora de Constelação de Ossos - Carmen Presotto
Com o poeta Everton Behenck e seu belo livro - Os dentes da delicadeza
Berenice Medeiros que me presenteou com uma rosa da cor da ternura - que ela descobriu dentro do meu outro romance - Solidão Calcinada - muita poesia no ar...
Com os editores - Vidráguas - Carmen Silvia Presotto e Ricardo Hegenbart
Fernando Ramos, Jaime Medeiros Jr. Carmen Presotto, eu e Teniza (de costas)
Carmen, eu e o poeta Ronald Augusto
- Mais imagens, acessar Vidráguas na Postagem abaixo
- Constelação de Ossos está disponível na Livraria Palavraria, com a editora Vidráguas e com esta poeta no email barbaralia@gmail.com