Quando a alma
fala
já não fala a alma.
Se o corpo é sua escada
a língua é por onde
ela escapa?
Jamais sairemos
desse labirinto
de falsos silêncios;
Então, por que não cantamos
enquanto afundamos
Ou por que não nos calamos,
até o fim da névoa
do labirinto
e do silêncio torpe?...
Se a canção da Ursa Maior
não nos alcança,
afundar no canto ausente
das sereias de antes,
e apesar da vitória
deste abismo em nós
de nossa secreta Ítaca
não estamos tão distantes.
Ítaca dentro de nós:
A torre, a amada a fiar o manto,
o cão cego e fiel,
a mesa, o vinho...
Ítaca – a felicidade-
escondida no mar de abismos
e nos labirintos de sal
- nossa casa-alma:
Esfinge na névoa
que sempre encontramos
no final.
BÁRBARA LIA / MARCELO ARIEL
Marcelo Ariel é poeta, escritor & performer. Nasceu em Santos em 68. Adaptou para o teatro obras de Dante Alighieri, Byron, Hilda Hilst, Yukio Mishima, Fernando Pessoa e Hermann Broch. Entre outros livros, publicou pelo Coletivo Dulcinéia Catadora o livro: ME ENTERREM COM A MINHA AR 15 e pelo Selo LetraSelvagem o TRATADO DOS ANJOS AFOGADOS. Pela Multifoco, CONVERSAS COM EMILY DICKINSON E OUTROS POEMAS.