Sunday, July 31, 2011

21 Gramas



BREVE NOVIDADES NO PROJETO 21 GRAMAS
contato - barbaralia@gmail.com
Para quem não conhece o projeto dos livros artesanais, o histórico está blog:
http://edicoes21gramas.blogspot.com/

Poesia / Terapia nas madrugadas




vou passar a madrugada em poesia enlaçada nas estrelas e debruçada sobre a Via Láctea...
ontem passei a madrugada acordada só para ouvir a chuva e ver o clarão na cortina a cada raio aquela música antiga e aconchegante de infância e seus odores a cada raio nas tempestades minha mãe queimava um ramo bento e clamava por santa bárbara com um temor qual de Fernando Pessoa e abraço esta natureza bruta e quero repetir nas madrugadas um banho de poesia, terapia sem trégua para voltar a ter a mesma ternura daquele menino do filme que acabou de passar no Canal Brasil... Corpos Celestes. Lindo, de poesia derramada em saudade das cidades pequenas onde vivi, do Brasil tri-campeão, do meu pai colocando seu teodolito no quintal a me erguer com suas mãos fortes para que eu pudesse olhar as crateras da lua, não era um telescópio, era o instrumento com o qual ele media terras... e este amalgama de chuva e estrelas e esta vontade de repetir o ritual e voltar a buscar a poesia em uma cena, uma frase, um céu de estrelas e um gramado, deitar de costas, deixar que os astros me soterrem...
belo filme do Marcos Jorge e Fernando Severo, uma constelação de atores curitibanos e aquela sensação gostosa e adocicada, comendo arroz doce na sala, acompanhando a trajetória do menino triste espalhando astros...


http://www.corposcelestes.com.br/



Wednesday, July 27, 2011

o gênio na cinemateca


29 a 31 de julho
15h45, 18h e 20h
Cinemateca de Curitiba
Entrada franca



a mentira é a melhor é a melhor amiga das artes
nela, gelatinosa, as glosas seculares
minúcias de paisagens inexistentes
um coração onde cabe um milhão diferentes

dondoca de agora, amanhã de coturno
segue sempre os passos de um antigo perjuro
a arte imita a arte que imita tudo
e é profunda, é verdade, bem no fundo

mas somos piores que os pintores de florença
ridículos comparados aos poetas de provença
michelângelo cagaria em cima de nossas estátuas
bethoven se limparia com as nossas pautas

que é a nossa dança diante de um delírio índio?
que é um soco nosso perto de um clay vindo?
por que, se finda é a arte, continuar mentindo?
repetir o que se repetiu de novo se repetindo?


(Marcos Prado)


Sunday, July 24, 2011

Percepções (diário de Magnólia)

No silêncio da noite a tela do computador enegrecida. Estava saturada do virtual. Queria o mundo real e sua respiração primeva. Tinha anseios de pisar de novo o chão, andar descalça como menina, andar sem medo da sujeira, sem medo de ferir a sola, sem medo.


Medo era a palavra do milênio.

Viver mergulhada em um mundo medroso era a angústia suprema.

No entanto, não via poetas escrevendo odes ao medo.

Estavam escondidos os poetas.

Em suas catacumbas ou em suas torres de marfim?

Andava a procura de um poeta maldito que subisse em um monumento e vociferasse um canto que fizesse mais alarde que o balé das pombas na Praça Santos Andrade.

A poesia escassa, o ar escasso, o amor escasso...

Sonhou percepções, ansiou-as como um doente terminal ao soro salvador.

Retirar da cartola lentamente as percepções primeiras.

Bebeu uma jarra inteira de suco de maracujá lembrando a exótica flor do maracujá no quintal da infância.

Bebeu cada estriada luz lilás dos filamentos da flor.

Respirou uma sinfonia de Beethoven, acendeu o incenso de eucalipto e desejou que o mundo todo pintasse o amor verde-azul, as noites estreladas de Van Gogh, a poesia em um quadro que a fizesse crer que era bem mais a vida que a ausência de ar e de poetas. Escrevia suas poesias em um livro de capa grossa azul que não mostrava a ninguém. Passou dias e dias bebendo poesias lembrando o tempo das percepções:
 
 
Bárbara Lia
Percepções - 21 gramas 2010

Percepções (diário de Magnólia)

Primeira percepção

A noite é perfumada





A menina Magnólia vivia como se fosse alma.


Hoje a realidade a prega no chão bruto, piso marrom manchado de vinho, janela com cortina bege e vista para o bairro.

Vista para a cidade cinza.

Magnólia sempre foi alma.

Sempre usou o corpo como um títere.

Manejava acima o enredo seu: escolhia a música e a poesia.

O corpo era instrumento amorfo.

Vivia com a alma.

Percepções.

A primeira percepção da menina – A noite é perfumada.

Respirava a noite.

Calçada estreita de cimento cinza e lateral de tijolos díspares como dentes encavalados.

A fila de tijolos ocres cercando a calçada cinza quase branca e acima dela mais brancas ainda as pequeninas flores e mais acima e mais brancas quiçá, as estrelas.

O perfume era imã para a felicidade.

De dentro da casa a luz não era irritante como as deste século.

Ligeiramente avermelhada como o brilho das sementes de romãs.

No rádio uma música de seresta, ou uma viola sertaneja.

A noite é perfumada;

Nunca soube se de mínimas flores ou de estrelas aquele perfume.

Mas guardou a imagem intacta na tela:

A menina magrela com vestido de babados de tecido anarruga branco.

Cabelos curtos, uma franja bonita na testa sábia.

Saltitando entre uma chuva de pequenas pétalas em uma estreita calçada.


Bárbara Lia (Percepções - 21 gramas/2010)

desenho - Ane Fiuza

Percepções (diário de Magnólia)



desenho - Ane Fiuza


Segunda percepção

A luz se move.






Vaga-lumes são faróis terrestres.

Siameses de estrelinhas verdes.

Espiões de meninas travessas.

Detrás das árvores de flores brancas eles abduziam Magnólia.

Piscavam, enfeitiçavam.

O lusco-fusco magnético fazia com que ela estendesse a mão, sempre impossível alcançar a luz.

Ninguém ensinou à Magnólia como colher vaga-lumes e estrelas.

A primeira vez que Magnólia entrou solenemente na vida, era esta a percepção:

Uma calçada clara clareada de chuva de mínimas flores brancas, a árvore florida e ao lado dela uma janela com luz estranha lembrando o miolo de romãs. Vaga-lumes distantes de seus dedos frágeis.

Magnólia colecionava palavras e não sabia qual a sua primeira palavra.
A mãe jamais dissera.

Por isto imaginava que sua primeira palavra tinha a ver com flor e luz e inseto que incendeia em lusco-fusco.

Talvez tenha sido um suspiro sua primeira palavra.

Ou uma interjeição: Ah!

O que mais pode expressar o sentimento de inserção...

Talvez tivesse repetido o som da flor que cai suave branca na calçada branca...

E este som ainda era o prenúncio de que o paraíso está ali na esquina.

Andava com prenúncios de paraíso ouvindo o som da flor que cai.


Bárbara Lia
Percepções / 21 gramas - 2010

Percepcões (diário de Magnólia)






Terceira percepção

As árvores dançam




Os olhos fixos na paisagem. Sensação inversa. Não é o carro que anda são as árvores que dançam em câmara ligeira. Velocidade 8 x mais. No espelho dos olhos verdes de Magnólia o verde de vento e copa e folhas e galhos.

As árvores dançam.

Como se um pintor passasse o pincel e o retirasse rápido respingava a tinta da tarde de cada cena que se move.

As árvores pálidas do inverno, sol filtrado dentro e os olhos bebendo a dança das árvores.

Não sentia o movimento do veículo. Não sentia o corpo trepidar na estrada de barro. Apenas o vôo orquestrado na retina, um rodopio de floresta, e então Magnólia percebeu na manhã de outono pálido – as árvores dançam.

Percepções
Bárbara Lia

Percepções (diário de Magnólia)






Quarta percepção

A alma é um beija-flor



A alma tem o peso de um beija-flor.

21 gramas?

Sabia depois de Guillermo Arriaga e de seus enredos únicos. Finalmente o cinema americano tinha alma, embora fosse alma de um mexicano. Tinha alma e ela pesava 21 gramas.

Na infância a percepção da alma trazia um estranhamento que a tirou do tédio.

Então somos algo mais...

Mais que barro, bem mais que terra & água modeladas por um Criador.

O sopro de Deus tinha 21 gramas de ar e inflava dentro esta angústia ou esta sensação de hosana.

Sabia que a alma pesava pouco quando era feliz. Elevava-se a potências infindas quando vinha a dor. A dor aumentava o volume metafísico do elemento que nos aproximava de um éden.

Magnólia não gostava de perder tempo pensando no éden. Achava um desperdício viver em função do desconhecido.

Achava enganação acreditar no perdão e em reinos que cobririam todas as dores...

Em um final de inverno, ela veria o beija-flor.

A um palmo de seu rosto.

Penugem de veludo verde escuro olhos mínimos negros.

Esteve mais próxima do beija-flor que jamais estivera de outra alma.

Um diálogo de olhares de Magnólia com o beija-flor:

- Voas?

- Por vezes...

Foi o que Magnólia pensou em resposta à súbita interrogação.

Para provocá-lo pensou – sabendo que eles lêem mentes como todos os pássaros...

- Minha alma tem o peso da constelação Ursa Maior -

O beija-flor arregalou os olhos negros e teve pena de Magnólia.

Sabia que faltavam apenas cinco horas para que ela mergulhasse no inexorável abismo – Amar até o fim...

Ela queria tocar o veludo verde que cobria o corpo mínimo e ele se foi sem que ela tivesse tempo de estender as mãos.

Bárbara Lia
Percepções
21 gramas /2010

Thursday, July 21, 2011

L'amour ça sert à quoi ?


Magritte


Porque Era Ela, Porque Era Eu
Chico Buarque


Eu não sabia explicar nós dois
Ela mais eu
Porque eu e ela
Não conhecia poemas
Nem muitas palavras belas
Mas ela foi me levando pela mão
Íamos todos os dois
Assim ao léo
Ríamos, choravamos sem razão

Hoje lembrando-me dela
Me vendo nos olhos dela
Sei que o que tinha de ser se deu
Porque era ela
Porque era eu

L'amour ça sert à quoi ?




La vie en noir

Cantar a dor – Piaf
Pintar a angústia – Kahlo
Esculpir a mágoa - Claudel


Não me afasto dos mitos
Escrevo o abandono
Com a coluna partida
La vie en noir

Bárbara Lia

L'amour ça sert à quoi ?

Camille Claudel posando para Rodin





Rue Notre-Dame-des-Champs
Recordas?
Entre nós não foi apenas valsa
Como a que dancei com Debussy
E talhei em mármore.
Não foi espanto apenas
Como meu olhar azul na onda
- Fuji ao fundo -
Terna reverência à Hokusai.
Lampejos de esperança – nosso encontro -
Sem saber que em minha vaga
Ao tecer crianças prestes a um naufrágio
Reproduzia o meu destino trágico
Mas, com minhas mãos pequenas
Esculpo apenas o que pulsa
Cão criança mulher amado.
Amado!
Raptado pela rosa fendida
Rose, meu espinho
Tu, carinho que eu perdi
Entre as vagas e a maré de egos.



Rue Notre-Dame-des-Champs
Recordas?
A minha agonia que nem podia
Esperar o novo dia
Estar em tua porta
Deitar-me
Natureza morta
Para que me eternizasse
- Danaide -
Sem saber que meus dedos
Iam moldar meu alienado fim:
Rupturas e súplicas.
Espanto em rostos de Ninfas
Medusa, Castelãs, Crianças.



Rue Notre-Dame-des-Champs
Tua criança amorável eu era
Dezoito anos, olhos de céu no dia da criação
Lábios sensuais em flor. Comecei a esculpir
– Pés, pés, pés...
Sem saber que dentro
Da alma fera e feminina
Esculpia um coração de vidro
Sem imaginar que um dia
A onda mais alta e brilhante
Me soterraria –Viva!

Bárbara Lia
Para Camille, com uma flor de pedra
21 gramas/2010

L'amour ça sert à quoi ?

imagem do site a place in the sun




O amor é uma sombra.


Como você chora e mente por ele.

Ouça: estes são seus cascos; fugiram, como cavalos.

 
fragmento de Olmo - Sylvia Plath

L'amour ça sert à quoi ?








Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados.

Havia revistas e jornais velhos em todos os cantos, pilhas de negativos em placas de vidro, móveis quebrados, mas tudo estava preservado da poeira por mãos diligentes. Embora o ar da janela houvesse purificado o ambiente, ainda persistia para quem soubesse identificá-lo o rescaldo morno dos amores sem ventura das amêndoas amargas.

“Não faltará por aqui algum louco de amor que lhe dê a oportunidade um dia destes.” E só ao dizê-lo percebeu que entre os incontáveis suicídios que lembrava, aquele era o primeiro com cianureto que não tinha sido causado por um infortúnio de amor. Algo se alterou então na sua maneira de falar.

- Quando encontrá-lo, preste bem atenção – disse ao praticante: – costumam ter areia no coração.



Gabriel Garcia Marquez in O Amor nos Tempos do Cólera

Wednesday, July 20, 2011

L'amour ça sert à quoi ?



Mulher na janela (Cícero Dias)


Igor ficaria menos tempo do que previmos. No máximo uma semana. Uma semana é o tempo de se contar mais de dez vidas, ele disse. Senti alívio verdadeiro ao perceber que ele não ultrajava nosso recanto, nem nossa intimidade. Apenas sacudia o meu desejo de voltar ao vício – fumar.

Como fosse um adivinho, depois do jantar, ele foi fumar no jardim. Vi seu vulto andando para lá e para cá embaixo da mangueira. Atirando o olhar para a natureza em torno, acompanhando o passeio da lua. Vi a suavidade máscula dos traços de seu rosto banhado de lua. Espiei por uma mínima nesga da cortina. Soltei-a rapidamente quando o olhar dele se voltou para a janela do meu quarto. Parei por um minuto feito uma estátua ancorada na parede. Minha respiração alterada.

Bárbara Lia
Constelação de Ossos
(ed. vidráguas /2010)
pg 50






Lucia M. Russo


Amei uma mulher com cheiro de céu na altura do coração. No silêncio dos dias, longe dela, eu a lembrava e chorava, chorava repentinamente em qualquer lugar. Bastava lembrar o perfume suave da sua alma e a luz que dela emanava. Era o silencioso Darma a nos enlaçar. Era outra história. Era uma fragrância de outra esfera. Sutil, quase inodora. O céu não tem cheiro de nada. Inodoro. Cheiro de Luz Branca.


Branco!

Branco!

O inferno exala no ar chanel n° 5, forte como farfalhar de sedas vermelhas.

- Chanel n° 5: O cheiro do inferno.

Bárbara Lia
Coreografia do Caos - 21 gramas/2010
publicado no formato ebook no site Germina

L'amour ça sert à quoi ?

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.






(Carlos Drummond de Andrade
 in “Amar se Aprende Amando”)

 
fotografia - Bárbara Lia






Minha luxúria - Polaróide antiga
Imprime postais esmaecidos
Sorrisos de conta-gotas


Minha luxúria lacrou
O livro do amor
- utopia dos desgarrados –


(Adeus suspiros de Monalisa
Carícias de carpideira
Despedidas na soleira)




Bárbara Lia
fragmento da poesia - SÉPIA

imagem: Matisse

L'amour ça sert à quoi ?

Isadora Duncan



devagar escreva
uma primeira letra
escrava
nas imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro
olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais
Flores do mais - Ana Cristina Cesar



que sempre amei
trago-te provas
até que amasses
voltas e voltas
que te amar hei
não se comprova
que amor é vida
ida - sem volta

dúvida, amado ?
fiz o que pude :
abracabraço-te
por vias crucis.

Emily Dickinson




tela - toulouse-lautrec

L'amour ça sert à quoi ?


Quando você for se embora
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,

me leve no esquecimento.



cantiga para não morrer - Ferreira Gullar

imagem - Tamara de Lempicka


Não me procures ali
onde os vivos visitam
os chamados mortos.
Procura-me
dentro das grandes águas
nas praças
num fogo coração
entre cavalos, cães,
nos arrozais, no arroio
Ou junto aos pássaros
ou espelhada
num outro alguém,
subindo um duro caminho.

Pedra, semente, sal
passos da vida.
Procura-me ali.
Viva.

HILDA HILST

Tuesday, July 19, 2011

Ana C.

21 gramas



Sempreviva
aos
Sempremortos:



Rasguem as encíclicas
as leis e as ordens


Mudem o cardápio da alma


A cada manhã
Meio copo de poesia
Panquecas de sol molhadas
Na clave de Fá
Salpicadas do orvalho
De Shangrilá



Bárbara Lia
Cigarras no Apocalipse
21 gramas / 2010
 
 
capa - Rogério Teruz
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Poetas gozam


Cenas açucenas

Lençol de Kandinski

Que cobre

O sangue coagulado

Da humanidade ferida

A esconder a realidade

Que rasga suas almas

De madressilvas

Bárbara Lia
Noon
21 gramas /2010
capa - fotografia - Mel Bandeira
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


Sean Connery e eu

Sean dança comigo
Na casa suspensa
De janelas andantes
Cercada de sóis

Sean sorri girassóis
Liberta todos os bemóis
Da orquestra das estrelas

Gestos dele – Iluminura –
Rei Arthur em sua armadura
Cavalga o silêncio
Atravessa pontes de aço


Sean Connery depois da batalha
Esquenta seus pés gelados nos meus
E me cobre com estrelas e nuvens
Enquanto me rasga dentro a mostrar
O quanto dói - em delícia – amar!
E amar Sean Connery dói bem mais.

À sombra de um rio
Bárbara Lia
21 gramas / 2010
capa - desenho do poeta Felipe Stefani
(ponte belga - Morretes)
 
 
 
 
21 Gramas é meu projeto de livros artesanais, breve novidades. Sigo a tecer com fios e palavras.
notícias dos livros no link abaixo:
http://edicoes21gramas.blogspot.com/

Monday, July 18, 2011

tem um pássaro cantando dentro de mim




SONDAS DA NASA


Pássaros de aço

no firmamento

acordam estrelas

com seu vôo

carente

Bárbara Lia
Tem um pássaro cantando dentro de mim
pg 19

Sunday, July 17, 2011

Identidade Bárbara

Quando comecei a ouvir a palavra Globalização eu pensei na utopia de uma menina que sonhava um mundo sem linhas nos mapas. Com o passar dos anos virei uma incrédula. Viver é puxar uma pequena mangueira da beleza e respirar um milímetro de ar por dia. A mangueira da beleza guarda a alma dos últimos sonhadores. O ideal pululando ao redor, os jovens que ousaram bravamente morrer para fazer História. A Poesia que escorria pelo Viaduto do Chá no Sermão do Viaduto do Álvaro Alves de Faria:

Tenho quarenta cruzeiros
e quero beber uma estrela.

*
Estou aqui, amigos, estou aqui:

e amo entre os escombros.


No tempo em que os jovens bebiam estrelas e não coca-cola, que rasgavam o peito para mostrar um coração pulsante. Nada é mais brega que a "perfeição" dos dias de  hoje. Todo mundo tão fofinho que enjoa. Tão corretos e tão cheios de ótimas intenções. A Internet uma fotografia que cada qual vai retocando como quer para ser alguém que deve ser aceito. Não ser aceito é o suicídio da década. Acostumada a ser suicidada eu vez ou outra penso - O que ainda faço por aqui? Fico por conta de algumas pessoas que existem e possuem uma Identidade. Encontrei várias neste caminho da Poesia. Colocando na balança: Posso dialogar com pessoas únicas, isto vale TODO O RESTO. Saudades do tempo em que existiam apenas pessoas humanas caminhando em busca de algo.
Nunca fui à Flip e nem sei se algum dia vou para lá - fazer turismo - como dizia o grande Roberto Piva. Neste ano penso que perdi algo que pela primeira vez me tocaria em humanidade na Flip - o valter hugo mãe. A primeira pessoa que me falou dele foi minha amiga Luciane Heleno. E ainda não li valter hugo mãe, quero ler, é claro. Quero ler tantos novos autores e não consigo, quem sabe até ficar mais velha eu possa ler e escrever as coisas sonhadas. Assisti ao vídeo do encerramento da mesa _ Pontos de fuga_ e a leitura que ele fez em homenagem ao Brasil. Então eu pensei nesta palavra quase sepultada - Identidade. Busco manter a identidade Bárbara. E a leitura dele é apenas isto... Um Ponto de Fuga para um lugar onde cada qual se reconheça. Em alguns dias, enleada pela loucura da modernidade, das falas e dos muitos e-mails me convocando para tantos lugares (que nada tem a ver comigo) eu me perco de mim. Esta parada é para pensar nisto, no desejo de ser quem ainda busca respirar o último ar do tempo em que o coletivo era outra coisa. O coletivo era um país encarcerado, crianças morrendo na África, pessoas a nos chamar em algum lugar acenando com mãos verdadeiras. Ainda existem mazelas no mundo, mas, estão todos muito ocupados em retocar sua própria imagem que aparece para o mundo inteiro. O mundo anda muito fake.
O escritor diz que quer ser pai e que ama o Brasil. Ele acha as brasileiras bonitas, e somos. Ele é apaixonante e se eu não estivesse fechada em conchas até o fim dos séculos, me apaixonaria por ele, teria trinta anos e faríamos o filho que ele sonha. Ia ser uma menina luso-brasileira sapeca, poeta e bailarina. EU acho. Brincadeiras à parte, ele simplesmente colocou na mesa um coração sensível, com verdade e memória que é a matéria de todo bom escritor. Com desejos saltando à flor da pele, com humor que é sempre necessário. Todos choram e nem percebem que ele apenas deixou aflorar a sensibilidade. Apenas isto. Ser sensível é proibido e cada qual vai colocando uma capa acima da pele e do olhar para ninguém notar que o é. Lembra Admirável Mundo Novo do Huxley. Afinal, não está tão longe assim do coração ser apenas uma máquina. E o valter hugo mãe apenas veio lembrar que ainda há tempo de ser UNO ainda que vivendo nesta aldeia global, chata e arrogante, mas, com pequenos tubos de belezas pendurados pelo ar.




o vídeo da flip

http://www.youtube.com/user/flipfestaliteraria?gl=BR&hl=pt

Friday, July 15, 2011

sylvia plath

Canção de Amor da Jovem Louca


                   tradução de Maria Luíza Nogueira






Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)

 
SYLVIA PLATH

Wednesday, July 13, 2011

A Presença da Mulher na Literatura Brasileira - Rubens Jardim


No Portal Literal texto do poeta Rubens Jardim sobre a Presença da Mulher na Literatura Brasileira:

"Sem a pretensão de desenvolver uma avaliação desse panorama, utilizo este espaço para prestar uma homenagem às mulheres. Mais especificamente: às mulheres escritoras. Ou mais especificamente ainda: às mulheres escritoras de poemas. Afinal, por incrível que pareça, existe uma nítida predominância em nossa literatura de escritoras que se dedicaram à prosa, notadamente ao romance"

O texto completo neste link:

http://www.literal.com.br/artigos/a-presenca-da-mulher-na-literatura-brasileira

Monday, July 11, 2011

Malditos Cartunistas





Localização Paço da Liberdade SESC Paraná
Sessão do filme Malditos Cartunistas, ainda inédito em Curitiba, na Gibicon!!
Sexta 15/07 as 17h30
Após a sessão, bate-papo com o diretor Daniel Juca.
ENTRADA FRANCA

casa do sol

pátio da casa do sol onde viveu Hilda Hilst


Acordei com desejo de visitar a Casa do Sol. Pisar o mesmo chão e sentir a vibração da poesia emanada pela poeta mais amada. A cor que ela mais amava lembra sangue, sangue lembra vida. Um arco-íris vai clareando dentro de mim: damasco, âmbar, nacar, pêssego, pérola...  
As cores sempre tocaram minha alma como mão que tange um violino gitano. O poeta Michel Sleiman escreveu esta poesia quando leu meu livro - A última chuva:


Cores



um azul todo água
verde mate à tarde
laranja abóbada
amarelo bandeira
ocre telhado
branco toalha
marrom preta amada
vermelho


cores de almodóvar em voz de adriana
outras de bárbara lia
pastel vibrado nas cordas


fluido de miragens
a ex-surgir paragens


sonha: o homem é aquarela
pinta: arco-íris da concórdia
em vaso
de flor
ou sanitário


e entre as frestas da veneziana
ar menestrel
o dia

Michel Sleiman

Sunday, July 10, 2011

Código Coletivo - 15 a 25/07/2011 - Castelinho do Alto da Bronze - Rua Vasco Alves, 432 - Centro Histórico Porto Alegre


O texto abaixo copiei do blog - A gata por um fio - da poeta de Porto Alegre - Sandra Santos:



CODIGO COLETIVO: projeção de poemas em QR CODE, no Castelinho do Alto da Bronze, Centro Histórico de Porto Alegre. Instalação de Sandra Santos, parceria CIDADE POEMA, Laís Chaffe.

Poetas que participam da exposição:
Ademir Antonio Bacca - Ademir Assunção - Ademir Demarchi - Alberto Al-Chaer -Alexandre Brito -
Allan Vidigal - Alma Welt - Alvaro Posselt - Ana Melo - Andrea Del Fuego -Andreia Laimer -
Antonio Carlos Secchin - Armindo Trevisan - Astier Basilio - Augusto Bier - Barbara Lia - Barreto Poeta - Carlos Seabra - Celso Santana - Claudio Daniel - Cristina Desouza - Cristina Macedo - Diego Grando - Diego Petrarca - Dilan Camargo - E. M. De Melo e Castro - Edson Cruz - Eduardo Tornaghi - Elson Fróes - Estrela Ruiz Leminski - Fabio Bruggmann - Fabio Godoh - Fabricio Carpinejar - Floriano Martins - Frank Jorge - Frederico Barbosa - Gilberto Wallace Battilana - Glauco Mattoso - Gustavo Dourado - Hugo Pontes - Igor Fagundes - Isabel Alamar - Jacqeline Aisenman - Jiddu Saldanha - José Aluisio Bahia - José Antônio Silva - José Inácio Vieira de Melo - José Geraldo Neres - Juliana Meira - Jurema Barreto de Sousa - Laís Chaffe - Lau Siqueira - Leo Lobos - Leonardo Brasiliense - Liana Timm - Lucia Santos - Luis Serguilha - Luis Turiba - Luiz de Miranda - Mano Melo - Marcelo Ariel - Marcelo Moraes Caetano - Marcelo Soriano - Marcelo Spalding - Marcílio Medeiros - Marco Celso Ruffel Viola - Mario Pirata - Marko Andrade - Muryel de Zoppa - Nei Duclós - Nicolas Behr - Nydia Bonetti -Orlando Bona Fº - Paco Cac - Paula Taitelbaum - Paulo de Toledo - Paulo Henrique Frias - Paulo Prates Jr - Pedro Stiehl -
Regina Mello - Renato de Mattos Motta - Ricardo Mainieri - Ricardo Portugal - Ricardo Pozzo - Ricardo Silvestrin - Rodrigo Garcia Lopes - Rogerio Santos - Romério Rômulo -Ronaldo Werneck - Sandra Santos - Sidnei Schneider - Silas Correa Leite - Suzanna Busatto - Talis Andrade - Tchello de Barros -  Telma Scherer - Tulio Henrique Pereira -Valeria Tarelho - Wasil Sacharuk -Wender Montenegro - Wilmar Silva

meus agradecimentos a todos os poetas!


Sobre QR CODE : Foi desenvolvido em 1994 pela empresa japonesa Denso-Wave, para identificação de peças de automóveis. Trata-se de um código de barras 2D que pode armazenar caracteres numéricos, alfa-numéricos, binários, kanji (alfabeto japonês). Os dados podem ser acessados, decodificados, através de dispositivos móveis equipados com câmaras e com um leitor QR compatível. Desta forma é possível ler um trecho de texto, uma mensagem sms ou ser redirecionado por um link a um site de conteúdo publicado na web, como este aqui

Para seu celular ler codigo QR, instale o programa. Muitos celulares são compatíveis com o KaywaReader (gratuito). Uma dica: ao baixar o aplicativo java, instale primeiro o arquivo KaywaReader.jad, para não dar error. Após instalar, acesse o ícone do aplicativo, aproxime o celular da imagem, dé ok e verifique se começa o escaneamento da imagem pelo programa(duas linhas, uma linha vertical e outra horizontal, se movimentando na tela), se depois disso acusar mensagem de “error”, tente encontrar o ângulo correto para fotografar.
Celulares iPhone podem instalar o aplicativo Qrafter na própria App Store da Apple. Há outros programas na web, como o Bee Tagg, I-nigma, ou Barcode Reader. Verifique sempre a compatibildade com seu modelo de celular.
Caso não queira decifrar um código encontrado na internete, sem o celular, isso tanmbém é possível, enviando o arquivo de imagem neste site aqui.

Thursday, July 07, 2011

Quinta Poética - Casa das Rosas









Julio e Débora D'zambê - Sansakroma, José Geraldo Neres, Maiara Gouveia (São Paulo – SP), Gracco Oliveira (Diadema – SP) e eu - 38ª Quinta Poética, Casa das Rosas dia 30 de Junho.

Tuesday, July 05, 2011





“A dor é mais visível na primavera”








O olho doente

Da Primavera

Segue-me



Estende tapetes

De flores

Venenosas



Viro à direita

Sigo a trilha de pedras

Áridas escarpas



Vivi o necessário

Para ver a maldade

Que floresce



Esta dor espalhada ao meu redor

Pelos tolos que se escondem

Atrás da frívola Primavera


Bárbara Lia
A flor dentro da árvore

Saturday, July 02, 2011

Rodrigo

O texto (link abaixo) do José Aloise Bahia, publicado no Site Cronópios, a lembrar os dois anos da morte do Rodrigo de Souza Leão.
Morrer deve ser o mergulho no ventre de um poema perfeito. Espero que assim seja. Aquele momento em que alma recebe um vento de beleza tão perfeito que de nada mais necessita. Anseio este ar perfeito e espero que não demore a minha hora de cair fora deste mundo patético.

http://www.cronopios.com.br/site/colunistas.asp?id=5084






"Eu ando pelas ruas da cidade escura. Pela noite de beleza absurda. De estrelas que iluminam meus olhos. Ando sem esperança, mas como um velho de oitenta anos pode ter algum tipo de alívio? Esperar o quê? A morte. Não tenho medo de morrer. Se eu soubesse que morto ia poder voar pelo espaço sideral e abraçar meu filho, eu me matava. Mas não tenho certeza e tenho medo do vale dos suicidas. O que é uma vida? O que são todas as vidas? Todos os caminhos levam à morte. Na verdade, ela é o único grande mistério e o que fez o homem inventar Deus."

Me roubaram uns dias contados - Rodrigo de Souza Leão - Ed. Record - pg. 227

meninos, pipas, pássaros, poesia...

"Os meninos empinavam pipas;

eu, pássaros"
(os meninos e eu - Bárbara Lia)


Pipas perdidas
viram lâmpadas
no paraíso
Bárbara Lia



CALVINISTA


Esses
meninos
empinando pipa
são mesmo crianças
se divertindo
ou teólogos
tentando
pescar o céu?

Gracco Oliveira
Refém das idéias
Editora Celta/2009



La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...