Tuesday, December 31, 2013

Poema de fim de ano


    Imagem by  Rosie Hardy





NIZAR QABBÁNI (sírio, 1923-1995)


QUE TODO ANO VOCÊ SEJA A MINHA AMADA



Que todo ano você seja a minha amada. (1)
Digo com simplicidade de
reza de criança antes de dormir,
ou o descanso, na espiga de trigo, de um passarinho.
No vestido branco, mais uma flor,
nas águas dos olhos, mais um navio a esperar.
Digo com calor e ira de
pés batendo o chão – dançarino espanhol –,
mil círculos a formar
em torno da terra.
Que todo ano você seja a minha amada.
Sete palavras, embrulho com laço:
meu presente de ano novo.
Os cartões não dizem o meu querer;
todos os desenhos que contêm,
(velas, sinos, árvores, bolas de neve,
crianças, anjos) - nada disso me convém:
não me agradam os cartões prontos
nem os poemas prontos
nem os votos para exportação,
feitos em Paris, Londres e Amesterdã,
escritos em francês ou inglês
servindo a toda ocasião.
Mas você não é mulher de ocasião;
é a mulher que amo,
a dor diária
que não se escreve em cartões,
que não se diz em letras latinas
e nem por correspondência.
Quando chega a meia-noite,
você, peixe, penetra na minha água cálida, se banha,
minha boca explora florestas ciganas, o seu cabelo,
e fica por lá.
Porque amo você,
o ano novo, rei que chega;
e porque amo você, carrego
permissão especial de Deus
para passar entre mil estrelas.
Este ano, não vamos comprar árvore:
Você será a árvore,
e sobre você vou dispor
meus desejos e orações,
minhas lágrimas, lampiões.
Que todo ano você seja a minha amada.
Desejo que temo
para não ser acusado de ambição e pretensão,
idéia que temo alguém a roube
e alegue ser o inventor da poesia.
Que todo ano você seja a minha amada.
Que todos os anos eu seja o seu amado.
Desejo fora do merecido,
sonho além do permitido,
mas quem tem o direito de censurar-me por meus sonhos?
Quem censura ao pobre o sentar-se no trono
por cinco minutos? – um sonho.
Quem censura ao deserto
querer um riacho? um desejo.
Em três casos o sonho é legal.
Caso de loucura,
caso de poesia
e o caso de conhecer uma mulher
estonteante como você.
Eu – felizmente – sofro dos três.
Deixe a sua tribo,
siga-me até as minhas cavernas,
largue o chapéu de papel,
a desajeitada melodia
e a fantasia.
Sente-se comigo na sombra – anestesia:
A poesia tem véu azul;
O meu manto protege-a das chuvas de Beirute.
Tenho vinho tinto, das adegas dos monges. Eu lhe oferecerei.
Prepararei um prato espanhol, de frutos do mar.
Siga-me, minha senhora, para os descaminhos dos sonhos:
Eu lhe mostrarei poemas nunca dantes lidos,
destrancarei baús de lágrimas nunca dantes abertos,
amarei você como nunca amei antes.
Quando chegar a meia-noite
e a terra desequilibrar-se,
quando os dançarinos começarem a pensar com os pés,
retirarei-me para dentro de mim
e levarei você comigo.
Não é mulher pertencente à alegria
comum, você.
E nem ao tempo comum
e nem ao grande circo que passa
nem aos tambores pagãos que tocam,
tampouco às máscaras de papel.
Finda a noite, sobram só
homens de papel e mulheres de papel.
Ah, se fosse do meu alcance,
minha senhora,
construiria um ano só para você
poder recortar os seus dias como quiser,
em sua semana apoiar as costas como quiser,
tomar sol e se banhar,
nas areias dos meses, correr como quiser.
Ah, minha senhora,
se fosse do meu alcance
ergueria uma capital para você
na zona temporal
que não seguisse o relógio solar
nem o areial.
O tempo real só começaria a contar
quando sua mão pequenina fizesse
a sesta dentro da minha.
Que todo ano os seus olhos permaneçam
ícones bizantinos;
seus seios, loiras crianças na neve a brincar.
Que todo ano eu esteja enredado em você,
acusado por amar
como acusam o céu por viajar
e o lábio, por arredondar-se.
Que todo ano eu seja atingido por seu terremoto,
encharcado por suas águas
e tisnado feito vaso chinês
pela geografia de seu corpo.
Que todo ano você... não sei como dizer:
seus nomes, você escolhe,
como o ponto escolhe o seu lugar na linha,
como o pente escolhe o seu lugar nas dobras de seu cabelo.
Apenas, permita-me chamá-la:
“minha amada”.



(1) Um jogo de palavras a partir da expressão árabe equivalente a “Que todo ano e você esteja bem”, usada em  saudações festivas, especialmente na passagem do ano.

Traduçao - Michel Sleiman, integrou o recital de Poesia Arabe em 2006.

Saturday, December 14, 2013

G Ideias _ 7 Poetas Paranaenses

Ilustração: Felipe Lima



Linda ilustração dialogando com minha poesia _ Algo a respirar nas casas naufragadas _ que está no G Ideias deste sábado. Poema inédito que vai figurar em um próximo livro que devo organizar em 2014. 
Os poetas paranaenses deste belo encarte editado por Marleth Silva:
Rodrigo Garcia Lopes
Glória Kirinus
Marcos Losnak
Karen Debértolis
José Marins
Bárbara Lia
Adriano Scandolara

Sábado com Poesia, basta clicar no link:
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1433149&tit=A-producao-dos-poetas-paranaenses#barbara


A imagem que inspirou  _ Algo a respirar nas casas naufragadas:



http://www.vus.com.br/projects/italo-calvino/

Ilustração de uma passagem do livro Cidades Invisíveis de Italo Calvino

Wednesday, December 04, 2013

Artesanais _ Fantasma Civil

Minha amiga Kátia Torres Negrisoli, de Adamantina, sempre fotografa os livros em ensaios poéticos que eu recebo e compartilho. Os dois livros da coleção _ Rosas em Ruínas _ Percurso amoroso de uma Vândala e Femme! e a Antologia da Bienal Internacional de Curitiba, organizada por Ricardo Corona _ Fantasma Civil.











2013: Algumas horas belas



O livro mais impactante de 2013 _ Uma viagem à Índia _ Gonçalo Tavares.
Uma epopeia onde os versos emanam toda Filosofia, a Metafísica. Um homem: Bloom. Até onde ele poderá levar seu segredo? Há algum tempo um livro de poemas não me levava pela mão com tanta beleza e com aquela ranhura de reconhecimento da alma humana. Um grande momento deste ano: Ler Gonçalo Tavares. Ouvir Gonçalo. Beber sua luz.

--

23 _ Canto V

Alimentados por livros, os filósofos
estão no mundo de roupão, se ainda não sofreram.
De roupão, que ridículo! Bloom solta uma gargalhada.
Ninguém recebe visitas estranhas com roupa intermédia
entre o sono obscuro e a vigilância clara.
Mas, de roupão estão de facto os filósofos no mundo
se ainda não olharam de frente para o tumulto inexplicável da natureza,
ou se por amor ainda não sofreram.

Página 211
Uma Viagem à Índia _ Gonçalo M. Tavares _ Ed. Leya


**


O filme impactante _ Blue Jasmine _ Uma adaptação de Woody Allen de _ Um bonde chamado desejo. Longe daquele enfoque nas locações, que ele trouxe nos mais recentes filmes, San Francisco é coadjuvante. Por isto mesmo a cidade se impõem. Como ótima coadjuvante integra a cena em luz e sombra. As horas duras no lusco fusco... As possibilidades em amplidão e luz...  
Uma interpretação impecável de Cate Blanchett. 





**

Momento sublime no cinema _ Monólogo de Javier Bardem em _ To the wonder (Terrence Malick)





**



Um momento impactante envolvido em uma esperança terna que desvaneceu depressa demais.
Sempre ficava triste por perceber a inércia dos brasileiros. Na metade do ano um vento de esperança soprou forte. Não foi em vão, mas, retomada a rotina fica aquela sensação de exército que abandona a guerra ao meio. Foram semanas de nadar no mar da utopia. 



***



Thursday, November 21, 2013

no silêncio do meu caminho...



Algumas imagens de 2.013:
Antologia de poetas de todos os países lusófonos _ organizada por Amosse Mucavele (Maputo)
Matérias sobre o livro _ Paraísos de Pedra:
















Exposição _ Cartões Elegantes _ Outubro _ 2013 _
19/20 - dia do poeta
Castelinho do Alto da Bronze
Porto Alegre
Organização _ Poeta Sandra Santos
poetas convidados:

Ademir Demarchi, Alexandre Brito, Bárbara Lia, Betty Vidigal, Caio Ritter, César Pereira, Dilan Camargo, Edson Bueno de Camargo, Edson Cruz, E. M. de Melo e Castro, Gilberto Wallace, José Geraldo Néres, José Inácio Vieira de Melo, Juliana Meira, Laís Chaffe, Lau Siqueira, Leila Míccolis, Lúcia Santos, Luis Turiba, Mara Faturi, Marcelo Moraes Caetano, Marco Cremasco, Mario Pirata, Manoel Herzog, Nydia Bonetti, Paulo Seben, Ricardo Portugal, Ricardo Silvestrin, Renato Mattos Motta, Romério Rômulo Campos Valadares, Rubens Jardim, Salgado Maranhão, Sandra Santos, Sidnei Schneider, Tchello d'Barros, Tulio Henrique Pereira.

















Fantasma Civil _ Antologia _ Bienal Internacional de Curitiba
Organização _ Ricardo Corona
Projeto Gráfico _ Eliana Santos








No primeiro dia do ano eu estava com meu neto no final da tarde e vi quando o céu ficou inteiramente  rosa. Fiquei com aquela imagem gravada. Ele com seus três aninhos e toda Poesia compreendeu quando eu mostrei este céu diferente e comentei sobre a cor das nuvens. Alguns dias depois ele contou para minha filha (quando ela regressou de uma viagem) sobre as nuvens cor de rosa que nós vimos. Fiz um poema falando deste momento, fazendo uma relação com a fase azul de Picasso (de pinturas plenas de dor) para a fase rosa, onde ele vai despindo aquele manto de espectros para pintar alguma felicidade. Este "Azul Desmoronado" _ o poema _ publicado em Março no Jornal Cândido (Biblioteca Pública do Paraná) abriu a cortina de um ano onde tudo que vivi foi como eu penso ser a vida de quem escreve Poesia. Onde o momento da criação é o ápice, ainda que observe as pequenas coisas dos bastidores da Literatura e perceba os equívocos e ouça ruídos, nada disto pode mudar meu caminho... Sou apenas isto: Uma Poeta. E sigo Poeta no silêncio do meu caminho...

A Poesia no palco:

Em três tempos: 
No evento _ Vox Urbe _ (organizado por Ricardo Pozzo), no mês de janeiro, dividi o palco com a Geisa Mueller na noite das _ Musas de Acetileno _ com a sensibilidade da Geisa para compor o enredo e a direção. 
Na Semana Literária do SESC, em setembro, a homenagem aos cem anos do nascimento de Vinícius de Moraes, ao lado de Marilda Confortin. Elas leem Vinícius.
E para encerrar, o lançamento da Antologia _ Fantasma Civil _ Lançamento da Antologia e recital ao lado de alguns poetas da Antologia.


A Poesia nas Antologias:
_
"O Grito do Sangue Tupiniquim" _ Vinagre _ Uma Antologia de Poetas Neobarracos:

"Alone/Enola" e "Deus no Orvalho" na Antologia _ Arqueologia da Palavra e a Anatomia da Língua:

E minha relação afetiva com a cidade, só podia ser mesmo com a chuva _ que eu amo! na Antologia _ Fantasma Civil, organizada por Ricardo Corona, no primeiro ano em que a Literatura integrou e _ 
brilhou_ na  _ Bienal Internacional de Curitiba.

A Prosa:

Este que foi o _ ano das cidades _ onde, finalmente, consegui publicar pinceladas de um tempo mágico, minha infância em Peabiru. Em um livro de narrativas curtas que mescla ficção e memória, trafegando pelos cenários curitibanos e peabiruenses. "Paraísos de Pedra" (Selo Castiçal _ Editora Penalux). Lançado em Julho na Livraria do Paço. 

2013 _ Intenso e poeticamente lindo:

Naquele dia rosado que inaugurou o ano eu não conseguia colocar tantas horas poéticas em meu pensamento e nem elaborar um ano tão límpido. Cada passo foi meio ao toque daquela Sinfonia preferida, se eu pudesse dizer : é isto que quero para mim... Talvez, nem mesmo assim, eu pudesse compor um quadro poético mais belo. 

Para sublimar o ano, em agosto, na Oficina do Gonçalo M. Tavares, eu ouvi o que precisava ouvir para lavar todo descompasso com alguns fatos do meu passado literário que ficavam arranhando e magoando. Com algumas palavras, frases, pensamentos, poemas, evocações, lavei as mazelas e guardei cada ensinamento do Mestre. Não creio em Oficinas como uma espécie de Escola onde se ensina a escrever. Gonçalo Tavares afirmou que também não crê. Mas, minha intuição em participar de uma Oficina foi vital. Ele gravou um _ recomeço _ quando afirmou coisas como: Os "imortais" podem perder tempo, pois eles são _ ou presumem ser _ imortais. Eles podem ler livros ruins, ver filmes ruins, e fazer coisas que em nada acrescenta usando um tempo precioso... Os mortais não podem fazer isto. O que assimilei como uma cura, foi a colocação dele sobre o tempo que alguém ou algum evento rouba de nossa preciosa vida _ estas coisas insolúveis. Por ter a chance de assimilar uma verdade... Eu carregava mágoas como Sisifo à sua pedra, era erguer e desmoronar sem fim. Aprendi com Gonçalo que um mortal não tem tempo a perder remoendo coisas pequenas e situações pequenas e insultos de pessoas que são pequenas _ sim _ quando perdem tempo com coisas menos importantes que construir sua Obra. 
Outra coisa mais que vital: Escrever e ler como quem se alimenta _ devorar. E também sobre a sua dedicação e seu isolamento em momentos de escrita. Longe da parafernália que rege tudo. Tal qual eu sempre pensei a vida de um Escritor, assim com "E" maiúsculo e um grande destino _ Fechar-se para tudo, em silêncio, como quem deleta o mundo para mergulhar na criação. 

E a minha criação vicejou em romances que necessitam ficar aquele tempo em repouso para serem reescritos, revisados... Em livros que enviei para Concursos e nem sei o que será. Em Poesias que escrevi como não escrevia nos últimos anos.
Passei alguns meses tentando compor uma Antologia Pessoal. Selecionar os poemas mais expressivos em um livro que resumisse toda a minha escrita e criação poética... Arquivei a ideia. Melhor reunir poemas para um livro inédito, sem pressa. Por isto, não tenho nada traçado oficialmente para 2.014, além de seguir criando, no silêncio do meu caminho. 
Dias mais poéticos para todos nós, em 2.014 e para sempre. Gracias a la vida, à partilha de todos que trilharam momentos e lançamentos, buscas e horas banais ao meu lado. A vida é um Mistério e em 2.013 tive esta certeza e saio dele com oitocentas mil perguntas e uma resposta simples, à la Gonzaguinha: É a vida, é bonita e é bonita...

__ sobre esta configuração do blog, ainda não sei como resolver... as palavras eu as escrevo completamente nas linhas, mas, quando publico elas ficam separadas, de uma forma incorreta... então, preciso pesquisar para saber como publicar sem esta configuração estranha __

Wednesday, November 20, 2013

what would i say?




_um aplicativo que resume suas postagens no Facebook. Fui até lá e o resumo da ópera é o poema abaixo _


E pensar que só uma televisão ligada no andar de mim:
_ Rimbaud
E se me perguntarem o que será
Dia nenhum
Mundo melhor
Amem
E esqueçam Deus

Bárbara Lia


Monday, November 18, 2013

Presentei Poesia _ Natal amorável




Sobre os livros artesanais... editei  _ Rosas em Ruínas _ pequena epopeia passional:

Femme! 
Essencialmente erótico. O pequeno livro é o que anda de mãos dadas com Eros, a maioria dos poemas falam do amor carnal. O poema que integrou a Antologia _ Amar, Verbo Atemporal (Umbrática Nuvem) _ está neste livro. 

Percurso amoroso de uma vândala
Primeiro coloquei o título deste pequeno livro de _ Canções de afundar navios _ depois optei pelo percurso. O percurso amoroso de uma vândala está dividido em três subtítulos: Dark Blues / Noir / Shine.




Rosas em Ruínas:
Para ter estes livros escrever para barbaralia@gmail.com
O preço é o mesmo do meu projeto artesanal
R$-9,90 cada exemplar + valor da remessa via Correios _ R$:-5,65
Na compra dos dois segue em um invólucro artesanal.


**O Romance Constelação de Ossos _ quem o desejar com dedicatória _ tenho apenas dois exemplares, mandem e-mail, este livro custa R$_25,00. Este romance e o livro O Sal das Rosas (Poesia_Lumme_2007) à venda na Livraria Cultura. È só colocar meu nome no site. Quem preferir presentear com livros tradicionais. Além desta opção romance e poesia, o meu mais recente livro de contos _ Paraísos de Pedra _ apenas no site da Editora Penalux. Natal com livros, quem gosta de ler gosta de receber livros no Natal. Eu gosto. Até 2014, com mais Poesia, é o que se espera...

Thursday, November 07, 2013

Um poema para Hart Crane



Em Wall Street, dos andaimes até à rua, o meio-dia escorre
Como um rasgão luminoso no acetileno celeste;
_Hart Crane



Crane afogado no mar das Antilhas
Olhos vidrados: duas conchas marinhas
_ Tela onde peixes assistem ao enredo triste _
Um menino desamparado
Um adulto amparado pelo álcool
(A vida é liquida _ disse Hilda Hilst)
Em Crane era liquidez de sonhos e espumas
Assombro diante de pontes
_ Pontes de ferro ou pontes de amor, partidas _
Abandono e amores brutos
No fundo do mar, a solução final

Bárbara Lia

Thursday, October 24, 2013

"desaparecer não é para qualquer um"




Marcos Prado tem razão _ Desaparecer não é para qualquer um _
Vou desaparecer por um tempo. Mergulhar no ócio criativo e escrever.
Antes, quero publicar os links de matérias bem lindas sobre a Antologia _ Fantasma Civil.
No Programa  _ Noites Curitibanas _ Michelle Pucci conversa com Sabrina Lopes e Ivan Justen Santana:



Na TV da Prefeitura Municipal de Curitiba _ A Arte toma conta da cidade




Paraíso de Pedras _ Paradiso _ Curitiba



Os poemas da Antologia _ Fantasma Civil _ o mergulho na cidade, evocou o meu mais recente livro _ Paraísos de Pedra _ onde a primeira parte tem como cenário Curitiba. Minha narrativa em prosa poética que permeia os contos de _ Paradiso:

"O palco tosco da sala da Universidade destoava da modernidade cilíndrica e asséptica da minha Curitiba. Sala antiga, prédio antigo, o professor de Antropologia valia a cena. Quando subia ao palco e improvisava paraísos eu viajava entre as tribos aborígenes _ homens de rostos adornados de branco. êxtase." (Página 17)

"A água não jorra, neste fim de tarde, do símbolo fálico do chafariz do Largo da Ordem. Um cavalo que baba (goza?)... O que secou? O sêmen ou a lágrima? Muito estranho esse cara que fala com o mármore com intimidade de amigo. A água parada, a vida parada, o homem descalço a conversar com as pedras e eu a esperar o amigo..." (Página 21)

"Em todos os invernos provarei o gosto do céu olhando o voo das pombas sentindo o aroma de seus cabelos espalhados.
E um sopro suave à saída do Café Express me trará esta certeza: dela ao meu lado espalhando anis no ar com a ternura dos naufragados." (Página 32)

"Aqui teu cravo branco, amor! Quando coloco os pés na banca do Mercado das Flores a moça me estende tua flor. Nossa flor. Nem preciso dizer nada. É o ritual das visitas das terças" (Página 33)

"O nosso corredor lírico era uma rua de pedestres. A recém-inaugurada Rua XV. No caminho para o apartamento de Mariah nossa parada era na Confeitaria das Famílias para comer uma bomba de chocolate e tomar um chocolate quente. 
Na cidade do nosso desabrochar existe _ a cada dia _ o ritmo das estações. Quatro estações em um só dia."(Página 38)


Bárbara Lia _ Paraísos de Pedra _ Editora Penalux - Selo Castiçal

Saturday, October 19, 2013

Pra não dizer que nunca falei em Deus...




Menina com bandolim _ Picasso





As pessoas buscam Deus. As religiões o usam. A sociedade ampara-se em dogmas similares para que as Instituições controlem. No fundo de todo homem existe o Fantasma do medo plantado por mãe, pai, padres, pastores... Criamos um mundo de medo, ao invés de um mundo de amor. Não amor no sentido pequeno e humano de querer ser amado, do receber e receber sem a parte mais plena e libertadora que é o _ dar. Sempre voei para os espaços vazios e quintais. Queria acompanhar as formigas no chão, as borboletas no ar... Pois aos que foi dado o direito de viver sem questionar, basta seguir o ritmo natural. Se eu sou hippie? Não. Nova era? Jamais. Vegana? Também não. Então, quando os homens começaram a classificar, incluíram este ranço que se volta contra quem vive, ama e pensa como bicho e flor... Que acordam e preferem o canto do pássaro que o noticiário tão igual. Quem duvida que vivemos o _ Admirável Mundo Novo _ eu que insisto em correr em busca da minha mãe natural (metáfora da criação), não encontro lugar. Tenho pena dos que se contentam com uma religião, ou a busca dela. Deus não está nas religiões. Nada nos faz mais humanos e menos nocivos do que apenas seguir o grito natural daquilo que nos colocou aqui... E isto nem significa família. Significa este fio que segue plantado dentro de cada um. A própria voz, o simulacro da beleza do único amor que importa está lá, desde o Big Bang. Então, desculpem os que vivem com os sermões a apontar a sujeira do sexo, a falta de senso em ter um deus Mamom... Desculpe se eu não creio mais em legados, livros sagrados... Eles ergueram os maiores muros em todos os tempos. Iniciaram e prolongaram as mais sangrentas guerras... Desculpem os crentes, os dementes que se acham crentes, os que acham que humanidade é classificar, julgar, apontar, tentar consertar... Tem um paraíso escondido dentro de cada um... E isto eu penso há muito, bem antes de me saber poeta. Querem um mundo melhor: Amem. E esqueçam Deus. Aliás, ele está saturado de ser usado para coisas pequenas. Ame! Ame! e Ame!... Só assim vale a pena, e ganhar ou perder, não importa... Estar certo ou errado, muito menos... E se me perguntarem o que é o amor, então, já estão pedindo demais... Tire os sapatos, fique nu de pele e ossos, cerre os olhos e caminhe, caminhe, caminhe e quem sabe o amor venha ao teu encontro...

Bárbara Lia, primavera de 2013

Thursday, October 17, 2013

Cartões Galantes - Exposição - Castelinho do Alto da Bronze - Porto Alegre

Minha Poesia na Exposição _ Cartões Galantes:







Mais um lindo projeto _ Curadoria Sandra Santos
Meu coração em Porto Alegre neste final de semana... em um do cartões galantes:



Cartões Galantes - exposição

Quando? dia 19/20 - dia do poeta
Onde? Castelinho do Alto da Bronze


Alexandre Brito, Ademir Demarchi, Bárbara Lia, Betty Vidigal, Caio Ritter, César Pereira, Edson Bueno de Camargo, Edson Cruz, E. M. de Melo e Castro, Gilberto Wallace, José Geraldo Néres, José Inácio Vieira de Melo, Juliana Meira, Laís Chaffe, Lau Siqueira, Leila Miccolís, Lúcia Santos, Luis Turiba, Mara Faturi, Marcelo Moraes Caetano, Marco Cremasco, Mario Pirata, Manoel Herzog, Nydia Bonetti, Paulo Seben, Ricardo Portugal, Ricardo Silvestrin, Renato Mattos Motta, Romério Rômulo Campos Valadares, Rubens Jardim, Salgado Maranhão, Sandra Santos, Sidnei Schneider, Tchello d'Barros, Tulio Henrique Pereira.

(Cartão de galanteio encontrado num livro que pertencia ao escritor gaúcho Othelo Rodrigues Rosa, inspirou Sandra Santos que criou a exposição utilizando versos atuais dos poetas acima)

Wednesday, October 16, 2013

Lançamento da antologia poética "Fantasma Civil"


Fantasma Civil
(Curitiba: Editora Medusa, 2013)
Bienal Internacional de Curitiba
90 páginas
Org. Ricardo Corona
Distribuição gratuita


Convido meus amigos para o lançamento da Antologia e a apresentação dos poemas por alguns poetas presentes. Vou até lá e vou ler um poema que fala sobre a chuva, minha memória poética-afetiva sempre presente nesta cidade líquida e vaporosa e gostosa e etc. e etc.




21/10

Lançamento da antologia poética "Fantasma Civil"
17h, no Palacete Wolf
Praça Garibaldi, 7 - Setor Histórico



A antologia Fantasma civil, organizada pelo poeta Ricardo Corona para a Bienal Internacional de Curitiba 2013, da qual é curador convidado, reúne 42 poemas de 42 autores brasileiros que mantêm alguma afinidade com a cidade. O conjunto de poemas acessa lugares de Curitiba, propondo-se a uma cartografia sensível da cidade. Com projeto gráfico da artista visual Eliana Borges, a publicação é composta de folhas soltas acondicionadas em uma caixa. Cada folha-página traz impressa, além do poema, a imagem que este menciona e, conjuntamente, poema e imagem, lembram afetivamente estes lugares da cidade. Trata-se, portanto, de um livro-objeto que se relaciona com “a cidade por meio destas estruturas dissipativas que são os poemas e as imagens (...). A partir de sensações de lugares e espaços que arquivam tanto sensorialidades imemoriais como lembranças individuais e, sobretudo, rastros-resíduos da cidade deslembrada – lugares que são devires antes mesmo de os poemas e as imagens se estruturarem para evocá-los”, conforme anota o organizador no prefácio do livro.


É importante dizer que o livro Fantasma civil, com suas páginas soltas, desdobra-se em duas outras ações poéticas: leituras criativas em trajetos de ônibus e travessias de barco. Além disso, a publicação estará disponível nas Tubotecas para que o cidadão que vive a cidade tenha acesso a essa memória poético-afetiva

Tuesday, October 15, 2013

Leitura afetiva dos poemas da Antologia _ Fantasma Civil


No dia 19 de outubro (sábado), as declamadoras Maria de Jesus (79 anos) e Wanda Bondan (74 anos), oferecerão às pessoas que estiverem no Passeio Público leituras de poemas durante trajetos de barco. Os poemas são da antologia Fantasma civil e essa ação é, sobretudo, um gesto poético que se oferece à cidade pela fala do coração destas mulheres.

Local: Passeio Público
Data: 19 de outubro (sábado)
Horário:
Manhã: das 9h às 11h
Tarde: das 14h às 17h

Leitura afetiva dos poemas da antologia Fantasma civil
Declamadoras: Maria de Jesus e Wanda Bandan
Participação gratuita.

...

A antologia Fantasma civil, organizada pelo poeta Ricardo Corona para a Bienal Internacional de Curitiba 2013, da qual é curador convidado, reúne 42 poemas de 42 autores brasileiros que mantêm alguma afinidade com a cidade. O conjunto de poemas acessa lugares de Curitiba, propondo-se a uma cartografia sensível da cidade.

Sarah Kane




Sarah Kane's Paint

"Fuck you. Fuck you. Fuck you for rejecting
me by never being there, fuck you for
making me feel shit about myself,fuck you
for bleeding the fucking love and life out of
me, fuck my father for fucking up my life for
good and fuck my mother for not leaving
him but most of all, fuck you God for
making me a person who does not exist,
FUCK YOY FUCK YOU FUCK YOU."

- olhos de inverno - Sarah, olhos baixos - partir - ciao,
baby - fazia um frio gigantesco - a cold cold night - ne-
nhum estouro - um desastre da distração - no banheiro
- o fim de uma pétala - a imaginação sob o imfluxo das
circunstâncias de olhar pela janela do apartamento às 6
da tarde de um sábado - de sangue e pus - querendo se
convencer de que tudo está bem - porém, a única coisa
que se quer é um Hershey's e um beijo - falta - a vida a
violentou até o fim _ se seu buquê era violento - acordar
no meio da morte, e desculpar-se pela ausência - muito
sangue, muito - e nenhum - ciao, baby - zopiclone no
apocalipse - sem efeito - seu rosto tem uma palidez rústi-
ca, e sua despedida - você não foi embora de avião -
disse o contrário e deitou-se - ajeitou cadarço até fa-
zer silêncio - o que acontece quando um rouxinol nos
acorda de um amor morto? - ainda hoje - sete lagos -
versos de ninguém - sete léguas - sete lagos - e a
lua branca - ciao, baby - seus lábios com o contrapeso
da ausência da palavra ciranda - as pulsações com toda
a pele de droga e desamor _ 20 de fevereiro de 1999 -
doesn't make sense otherwise - doens't make sense any-
way - o violão acorrentou em seus seis abalos sísmicos
a cisma de uma flor sanguínea - ciao, baby - see you later
- em algum lugar em que eu nunca estive - alegremente
- sempre - nunca - estarei

Fabiano Calixto

Sanguínea _Editora 34 _ Páginas 85/86



***





"eu nunca entendi 
o que é que eu deveria sentir
como um pássaro voando num céu inchado
minha mente é rasgada por um relâmpago
quando ela voa fugindo do trovão"
Sarah Kane/


Olhos alagados de neve negra 
- Nunca abra a cortina!
A não ser para meu espírito fugir
Às 04:48 - a hora feliz
Pensarás em mim do jeito que eu sempre quis?
Para que eu possa sentir a felicidade estagnada
Qual aquela de quem está em estado de coma?
(sentar nos degraus enquanto tomas banho
passar a maquina suas cartas
ir ao Florent beber café à meia-noite)
A verdade das baratas
A falsidade da luz
O convite sincero dos trilhos do trem
Escotilhas abertas: 
Felicidade saia deste estado de coma!
(dar-te girassóis
desintegrar-me quando ris
querer aquilo que queres)

Bárbara Lia
- as palavras entre parênteses são de Sarah Kane.

Friday, September 27, 2013

Frida e eu





MEU CORPO lembra Frida Kahlo. A marca que impede uma alma livre de ser plena, correr ao encontro de tudo. O congelamento do corpo em uma cama, em um espaço cerzido. Ela _ Frida _ não aceitou e pintou sua realidade com traços de luz/fogo/alfazema/lágrima e amou de um amor irrepreensível e nunca aceitou que o mundo a taxasse de menor ou pequena... Frida sussurra no meu travesseiro a ladainha da rebeldia: Ergue este queixo bonito e pisa as flores da tua escolha, e ama e ama até forjar uma chuva de colibris acima dos abismos. Frida, Frida... Ainda estamos colhendo estas aves azuis com nossas mãos pequenas. Tua liberdade era estrela bastarda _ eterna fagulha no céu _ eu a agarro como quem monta uma égua dilacerada, pretendendo com ela atravessar a agonia do viver. E quando meu corpo esquece que é teu corpo eu contemplo este duplo meu e a minha voz interior diz claramente _ Sou Frida à medula. 

Bárbara Lia _ do livro inédito "A vida é um cão que nos devora começando pelos dedos".

Thursday, September 19, 2013

Homenagem a Vinícius de Moraes _ Cem anos de Poesia - Algumas imagens















Carta ao poeta (Bárbara Lia)

Querido Vinícius...
Uma menina com uma flor
Uma menina do interior
E teus versos a espanar
O épico da minha casa
Tua poesia em brasa
De Amor que tudo alcança
Ah! Poetinha, poeta lindo
Poeta da Pátria minha
Tu me ensinastes a Amar!
Hoje calo a derradeira chama
Que _ cíclica _ derrama
Para falar de exílios, guerra, saudade...
E passear também pelos teus primeiros anos
A criança que um dia todos fomos
E nunca deixamos de ser: Menino e Menina
Poetas a acreditar na beleza
Por isto, atiro aquela rosa antiga da minha cabeceira
E o espanto de saber que _ o amar _ não envelhece
Hoje amo, amo e amo como naquelas manhãs do amor primeiro
E desde então e até aqui...
Também te amo, Vinícius de Moraes...


**
A homenagem ao Vinícius foi _ LINDA!
Estou triste e isto está ali, no meu rosto.
O Público gostou. Isto importa.
E sei que Vinícius também amaria, ver duas poetas a dizer seus versos, a celebrar o fato dele ter nascido há Cem Anos e ter esparramado tanto encanto, tantas canções, tanta poesia. Ser o branco mais negro do Brasil, ser esta figura. Humana.



Tuesday, September 17, 2013

Vinícius!



"Quem pagará o enterro e as flores
se eu me morrer de amores"
Vinícius de Moraes

Monday, September 16, 2013

deux poètes


Imagem _ Rossana Bossù





No princípio a homenagem ao Vinícius ia ser fragmentada em dois tempos _ uma leitura minha e em outro horário, a leitura da Marilda. depois houve esta junção via SESC e foi melhor, ao menos para Bárbara Lia, tímida e longe dos palcos, organizar com alguém com experiência de performance poética, mais ligada à música e teatro que eu. Poesia, quando se trata de leitura em palco, só no útero marginal Porão do Wonka Bar, raramente me apresento em um palco maior. Naquela ocasião que era eu, Deus e Vinícius, eu decidi que não ia ficar falando do Vinícius boêmio e cheio de mulheres, ia falar de outros temas. E havia escolhido um título pra nossas poesias _ Dois Poetas no Front. Esta imagem e este vestido esvoaçante, o pássaro azul, a memória. Tudo me envolveu ontem e criei esta imagem de nós dois _ lembrando o verão passado, quando estava com um vestido branco e leve e levava meu neto pela mão para brincar no parque. Quando ele percebeu que meu vestido estava alucinado ao vento ele disse _ Vó, teu vestido quer fugir... Se for para fugir e voar, que seja com o pássaro azul da Poesia!

La nave va...

Um dedo de prosa

  Fui selecionada, ao lado de vários escritores e escritoras, para integrar o projeto "Um dedo de prosa". Um dedo de prosa promove...