Não se mede o Tempo na Literatura como normalmente medimos – os anos da nossa vida – por exemplo, nem como deve ser marcado
para o inicio meio e fim de uma plantação de uvas, ou de rosas. A Literatura se
contrai e se estende e nada pode ser dito e nada pode ser afirmado com tanta
certeza. Digo isto depois de passar dias e dias meditando sobre o momento da
Literatura Paranaense, ao ler periódicos e acompanhar as noticias sobre
escritores e livros. Enclausurada, sigo escritora. Esta estranha ocupação onde é possível ser, sem viver atrelada a nada. Alias, acredito mesmo que para ser
escritor é necessário fazer aquilo que Gonçalo Tavares disse e achei deveras
interessante: Seus pais não o interrompem quando ele sai de seu local de
trabalho, vai até a cozinha para tomar um café e volta para sua ideia. Ninguém
diz nada, as coisas urgentes são comunicadas por bilhetes atirados por baixo da
porta. Cara de sorte este Gonçalo, vive a plenitude da Escrita, seu momento de criação
respeitado de forma ampla, geral e irrestrita. Sobre estes murmúrios de que não
existem Escritoras Paranaenses. Sobre os sussurros que gotejam feito torneira
estragada sem interromper nunca a água chata a repetir a mesma nota, tentam via alguns jornais editados por vezes por
jornalistas jovens e deslumbrados, tentam afirmar que existe apenas uma
possibilidade, um único nome, blá blá blá. Decidi percorrer os caminhos das
mulheres que – como eu – escreveram romances. Sim. Existe um nome que sempre
brilha quando falam em escritoras paranaenses: Julia da Costa. Começo com ela,
e quando digo que – começo com ela – não significa ler em uma semana um livro,
dois ou três. Significa ficar um ou dois anos ao redor de Julia da Costa. Conhecer
palmo a palmo, nadar dentro de seus textos. Com Sylvia Plath eu deitei e
acordei de 2000 a 2001, com Emily Dickinson de 2009 ao ano de 2010. Uma coisa
que amo fazer e que não abro mão. Quando digo, quero conhecer este autor, tento
ver tudo que existe dele impresso, depois se existir material de áudio, filme,
qualquer coisa... Depois disto eu posso dizer, sim eu li Sylvia Plath. Sim, eu
li Emily Dickinson. E, me dedico a isto. Em um verão eu li os volumes grossos
da obra completa de Borges. Eu li em espanhol. Passei as férias de verão percorrendo
páginas, quando terminei eu não conseguia pensar mais no meu idioma. Pensava
como Borges, e amava aquilo. Foi naquele verão que escrevi – Deus no orvalho. Decidi
ler as obras das mulheres romancistas. Por viverem em um tempo em que a obra destas autoras se
resumia a um livro ou dois, talvez eu não necessite dois anos para aproximar-me
de Julia da Costa. Quem sabe neste tempo eu possa conhecer também Didi Caillet.
Hoje comecei a pesquisar sobre elas e encontrei um vídeo sobre Didi Caillet.
Maravilha! Um mergulho delicioso neste domingo imprescindível quando anjos
vieram sussurrar: Não se preocupe com nada, apenas em ser fiel ao seu destino e
ao que estava programado desde o inicio - Escrever. Viver para deixar uma obra na esquina do mundo. A maçã deixada na curva de um caminho. Foi Gonçalo Tavares que
falou sobre esta sua paixão pelos escritores, e
a razão dele dialogar com tantos autores. Ele acredita que deve algo aos que vieram antes e quer deixar algo aos que vierem depois. Lindo isto. Eles vieram antes, para que os futuros autores soubessem seus passos, se a carruagem de seus destinos virou a esquerda ou a
direita, cada um deixou uma maçã(o fruto do conhecimento) na curva do caminho. Vou procurar as
esquinas do antes, e conhecer as mulheres que escreveram antes de mim, para
completar o ciclo e aprender com elas.
Na minha casa eu ouvia sem cessar os poemas de Maria Cândida
de Jesus Camargo (irmã da minha bisavó) e Eleonora de Angelis (irmã da minha avó),
este manancial de poesia feminina do final do século XIX e inicio do século XX.
Minha raiz mais pura.