Wednesday, July 09, 2014

Tempo Algum - Antologia de literatura marginal de Diadema




Recebi a Antologia organizada por Carlos André. Tempo Algum traz na contra-capa texto de Marcelo Torres:

"Tempo Algum" é com certeza uma antologia de literatura marginal de Diadema. Testemunha através de sua ação literária as vivências estéticas com a linguagem de seus autores: é fuga, tempestade, vertigem, narração e busca diacrônica que transforma o insólito espaço dado a nossa literatura. Os textos acolhidos giram e aspiram a viver na atmosfera poética, são instrumentos da palavra e corpo frente a linguagem da cidade, e como diz Octávio Paz de forma brilhante: "A linguagem é o homem, porém é também o mundo. É história e é biografia: os outros e eu." Marcelo Torres


A apresentação do livro é de Ely Yabeth Brait Alvim, o livro foi realizado com financiamento do Fundo Municipal de Cultura de Diadema e Prefeitura de Diadema.

Dividido em Poesia e Prosa, transcrevo alguns poemas do livro:


Minha preta cor de canela (Danielli de Castro)

A vó é toda
contradição

jovem e espirituosa
enérgica e afetuosa

a vó mente todas as
histórias com uma
fluência magnífica
nem cora quando se contradiz:

rapidinho arranja
outro elemento e
enfeita tudo de novo

faladeira e reclamona
chora de barriga cheia
dramática dramática

É a vó que faz o café
mais gostoso...

- Vó, eu te amo!
- Eu também te amo, porque você me ama.

A vó é cheia
de racionalidades
ternas.




Re-partejar-se (Radi Oliveira)

Cheguei em casa. Cabelo curto, calça larga, voz grossa. Minha
mãe, com olhar uterino,
revirava-me, a procura dos traços de outrora.
- Cadê as tranças? - O vestido florido? Ela abortava.
- Cadê os beijos? - O abraço amigo? Desentranhava-me

Entre a dor e satisfação, apanhei...
Igualzinho ao meu irmão.




Coletividade (Mozart Rufino)


Minha casa
Minha rua meu bairro
Meu número e minha coletividade
Da mesma escola

Que me dá tanta saudade

Meu sapato fora da moda
Ainda é meu sapato

Minha calça listrada
Com lembretes e tocada
Pela saia da amada





todo mundo deveria escrever algo sobre Fernando Pesoa (Marcelo Torres)


abro a gaveta da cômoda para logo
em seguida fechá-la
este movimento é a força física da minha ação
diante do esforço de colher teu poema ruidoso
feito em linha reta

caeiros

uma nação esperando seu rei
sob muita febre céu de dinamite
é aurora em portugal
as naus beliscam o sobretudo de fernando pessoa

campos
reis

carimbo livros de deuses diversos
sei que pisavas garrafas matinais
pensando no universo de seus versos
pendurado na inacessibilidade de uma náusea
eu sempre fui real/é antiqüíssima a vida
talvez idêntica ao infinito de uma boa transa
mas isso suponho sem muita reflexão
as árvores estão próximas demais de meu sexo
os humildes continuam sendo abandonados
há literatos demais esoterismo
raiva de não ter roubado balas de goma
eu não serei o poeta de caligrafia bonita e linear
estou agora como quem esqueceu as calças
em algum quarto com quadro obsceno
retiro uma estrela cardíaca de um dos seus heterônimos
comporto-me nos bares como se estivesse
parado em frente de uma tabacaria
espero carona para não dormir na rua



II (Juliana Meireles)


Quando entravas em mim
Era eu e você dentro de mim
Minha'lma grudava em ti
E desgrudava no fluido dos lençóis
Flutuava...
Dançávamos hora violentos
Hora Calmos
E quando estavas em mim
Eu não queria sair de dentro.
Fora. Combate.
Poderia morrer e você dentro de mim
eu seria infinita.



- minha impressora quebrada e não encontrei imagem da capa na internet e não tenho como digitalizar nada - ficam alguns versos de um livro em prosa & verso.



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