Edgar Degas
Alma
mais cansada que bailarinas de Degas
Alma
translúcida de luz eternizada por
pincéis
Alma
desgastada de pingar como vela acesa
O que
pode ser apenas lágrimas pelas mariposas mortas
Cegas
pela luz: viver é magoar corações
Ferir a
cada manhã - mesmo sem querer –
E viver
com a liberdade atada presume ir
cortando gargantas
E viver
não traz candura como insistem os livros
sagrados
Viver
soa como sino de igreja na hora da elegia
Um morto
a cada toque do ângelus
Um morto
por dia para que um homem tenha a audácia de ser livre
Isto soa
triste e parece e é...
O que se
pode fazer se um homem livre mata
uma pessoa por dia
(Pode
até que seja ele mesmo)
Enquanto
outros - não libertos - demolem
aldeias inteiras
Escravizam
órfãos e incineram os pátios da esperança
Um homem
escravizado fecha as portas e as comportas das fontes de água
Ergue
barricadas ao redor do verde
Impede o
casamento das libélulas e o voo de
algum pássaro raro
Um homem
livre existe – quiçá - a cada milhão
Um homem
aprisionado a gente encontra a cada esquina
Mais de
cem em cada quadrante de quinhentos metros
Milhões
em um estádio e dezenas na coxia das estrelas
A
estender a perna a cada estrela que sai do palco, vestida de bailarina,
Pincéis
de Degas flanando ainda ao redor
Bárbara Lia
Livro inédito: Todas as tardes de maio serão tuas.