Thursday, November 30, 2006
UMA POESIA:
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se eu pudesse ter o presente impossível
pediria - os olhos mel de minha mãe -
eles me viam inteira
- um catavento topázio eclipsando o cinza.
sem o mel
que me cobria...um dia sou cinza,
em outros, catavento.
e entre eclipses sazonais:
topázio.
BÁRBARA LIA
EU NO QUINTAL DA MINHA AVÓ
Descendo a escada para o quintal
havia azul no céu, estava perto o luar.
A brisa fraca e triste soprando
um ar de amizade, alegria e amor.
Mas, de repente, diante dos meus olhos
eu vi uma coisa estranha,
um cachorro correndo atrás de um vagalume.
Minha avó apareceu
e disse que meu avô morreu.
Diante da escuridão
ouvi um alto mugido
fui ver o que era,
era uma vaca morrendo envenenada,
e então minha avó disse
que era a vida.
VINICIUS G. HENNING
- meninos e meninas de doze e treze anos na sala, e o cansaço do ano, e a idéia de realizar ali a mini-oficina de poesia, proponho o tema, pensando na minha infância e nos quintais, e pergunto se a avó deles não vive em um lugar onde existe um quintal, é o que me ocorre, tentando colocá-los em uma cena. Terminada a aula, me encanto com um cachorro atrás do vagalume, isto me faz olhar para vinícius (nome de poeta) e descobrir um poetinha, que já sabe da vida...
Sunday, November 26, 2006
PRIMAVERA DESFOLHADA
p/Clifton Giovanini
De uma ponte de suicidas
surgiu o nome do poeta,
que na Ilha do Mel
filosofou com astros
e na minha sala
derramava o século XIX
- cartola e fraque
e sorriso maroto -
Sempre trazia chocolate
e uma dama à tiracolo,
histórias de noites
vagando entre túmulos
(hobby à la Jorge Mautner),
e planos de rasgar o sul
nos trilhos.
Longe, escreve fumando narguilé,
batucando a velha Olivetti,
diante da catedral gótica.
Meu amigo medieval,
ponte de ternura rara,
exilado em um lugar
onde a neve cai ao sol.
Onde ele não esquece
nosso carinho repartido.
Agora, vai descrever
as pedras da catedral
com ternura embriagada,
breve, vai ultrapassar
a soleira em luz,
garrafa de vinho
em uma das mãos,
uma chama de vidro
no coração
e no rastro
uma primavera desfolhada.
BÁRBARA LIA
Friday, November 24, 2006
ALEJANDRA PIZARNIK
Thursday, November 23, 2006
TECENDO ESTRELAS DE VAN GOGH
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TECENDO ESTRELAS DE VAN GOGH
Estrelas escorriam da tela,
na solidão do museu.
Aparei gotas de céu em minhas mãos.
Enovelei-as.
Possui por um tempo,
estrelas abrasadas de loucura
e o azul mais azul que pode o azul ser.
Museu de Nova Iorque
em delírio.
Corre-corre. Alarmes. Vigias.
Não revistaram minhas mãos.
Um céu enovelado que me aquece
e apaga – primaveras sem teus beijos,
invernos de angústias.
Teci um manto azul
de estrelas emaranhadas,
um manto enfeitiçado.
Das estrelas da noite do artista.
Tenho mãos de fada.
e tenho tanto amor,
quanto estas estrelas deslumbradas.
Quando chegar aquele que amo.
Com seus olhos
que são para mim, música;
e para outros, mel.
Quando ultrapassar a escura porta
e se quedar no branco leito.
Eu o cobrirei com o céu.
BÁRBARA LIA
Saturday, November 18, 2006
nilza menezes / marize castro / clauky
arbol de la vida - violeta parra
Suas digitais
estão no meu coração,
não consigo provar
que é você o culpado.
Nilza Menezes
(Fruta azeda com sal - Ed. Blocos)
A sua cegueira me fez chorar.
No meio da madrugada sopro da memória o seu rosto.
Morro em rasante gozo.
Marize Castro
(Esperado ouro - Una)
Em parte (ou, Epitáfio)
Partitura sem fim
Parte tua sem mim
Memória póstuma
posta de lado
posto que é chama
e finita...
De concreto
nessa vida
só a lápide
na despedida
Clauky
Thursday, November 16, 2006
do amor
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.BÁRBARA LIA - foto - Rebecca Loise
"Nunca poderei atirar o amor pela janela" (Rimbaud)
"Amar é dar a cara nas formigas" (Manoel de Barros)
"A dor do meu amor nem a lágrima alivia" (Maiakóvski)
"O amor quando se revela não se sabe revelar"(Fernando Pessoa)
"O amor - única navalha que me corta"(Bárbara Lia)
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Briza com z
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foto - Rebecca Loise
BRIZA
a gente vai passando de ano em ano
como quem pula os muros d'água,
quem disse que a gente se molha,
a gente aprendeu a ser assim
- plastificada –
e só abre a porta para as brisas belas,
e as pessoas amadas,
chuva cruel, tempestades de mágoa,
a gente desvia, se cobre...
e pula sempre os muros d'água,
como quem não quer
se contaminar com a lágrima,
a lágrima a gente pinta,
pierrot em disfarce.
como escrevo a beleza
sendo assim tão triste?
- é que aprendi a pular os muros d'água.
BÁRBARA LIA
-- briza com z, nasceu do diálogo com uma menina chamada briza -
Friday, November 10, 2006
CL
Invertendo as letras – CL ou LC – Clarice Lispector ou Lucio Cardoso. O coração selvagem de Clarice, também de Lúcio, ambos escolheram o título do livro dela – Perto do coração selvagem – Ele um coração selvagem leonino que não respondia cartas e manteve suspenso o amor inconcluso. Ela enigmática e triste de uma beleza rara e vida isolada escrevendo o que deixa ainda em transe o coração e a alma... As correspondências de Clarice Lispector, que li algum tempo atrás, o amor entre as dobras das pautas, como uma partitura de uma sinfonia impossível.
Do coração selvagem de Clarice - para o coração selvagem de Lucio Cardoso:
"Me entristeceu um pouco você não gostar do título "O Lustre". Exatamente pelo que você não gostou, pela pobreza dele, é que eu gosto. Nunca consegui mesmo convencer você de que eu sou pobre... Infelizmente, quanto mais pobre, com mais enfeites me enfeito. No dia em que eu conseguir uma forma tão pobre como eu o sou por dentro, em vez de carta, você receberá uma caixinha cheia de pó de Clarice."
“Lúcio, me escreva e conte coisas. Ou então não escreva, que posso eu fazer? Um dia desses fui ver a lava do Vesúvio. Tenho um pedaço feio de lava para você. Depois de um ano ainda estava quente; é uma extensão enorme, negra, de vinte a trinta metros de altura; a gente anda sobre casas, igrejas, farmácias soterradas. A erupção foi em março de 1944 e quando chove sai fumaça ainda.”
“quanto ao teu fantasma, procuro-o intimamente pela cidade”
“Belém, 6 de fevereiro de 1944...
...Tenho lido o que me cai nas mãos. Caiu-me plenamente nas mãos “Madame Bovary”, que reli. Aproveitei a cena da morte para chorar todas as dores que tive e as que não tive. – Eu nunca tive propriamente o que se chama “ambiente”, mas sempre tive alguns amigos. Aqui só tem “mutuca”, (isso é besouro, mas por que não chamar tudo mutuca logo de uma vez?).”
Thursday, November 09, 2006
DESDÊMONA
Monday, November 06, 2006
tristessa
TRISTESSA
P/Jack Kerouac
ame quem te ama e conheça o inferno
fogo a fogo no porão do medo
fogo a fogo no cabelo da Medusa
atiçando cobras
atiçando demos.
ame quem te ama e conheça a dor
amputar pernas braços sexo e coração.
ame quem te ama
nesta luta cega
boitatás no milharal
não sobra espiga sobre espiga
e o espantalho, mudo, tira o chapéu
e dança triste no chão de palhas.
ame quem te ama e conheça o inferno
dois sustos travestidos de sons
querendo narrar o que o humano não narra
escrevendo em aramaico o avesso do vivido...
ame quem te ama
e se arrependa de viver rezando pelo amor.
ame quem te ama
e descubra
a agulha fina e gelada do olhar
o rio de deus que rola tua nuca quando ele te toca
o que é não sentir o corpo do outro
cópula de luz.
o que é ter a língua presa o corpo preso o gesto preso
e a alma livre pluma de algodão te levando onde não quer
onde não deve estar, nem teus pés, nem tuas mãos...
BÁRBARA LIA
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Trechos de Tristessa:
"La vida es dolor" (a vida é dor), ela concorda, diz que a vida é amor.
*
... Ela sorriu e desceu com passinhos miúdos e a mão na saia, com aquela lentidão linda e majestosa de mulher, como uma ninféia chinesa.
"Não somos nada."
"Podemos morrer amanhã"
"Não somos nada."
"Você e eu."
"Não somos nada."
"Você e eu."
Eu acompanho-a educadamente com a lanterna até a rua, onde chamo um táxi branco para levá-la para casa.
Desde tempos imemoriais e adentrando o futuro sem fim, os homens amaram mulheres sem dizer a elas, e o senhor os amou sem dizer, e o vazio não é o vazio porque não há nada para ser esvaziado.
Estás aí, Senhor estrela? - Suave é o chuviscar que perturbou minha calma."
*
Tristessa está me segurando e aos poucos aproxima seu lindo rosto moreno do meu, com um sorriso precioso, e finjo quase deliberadamente ser o americano confuso - Olhe, eu ainda vou salvá-la -
*
E faz menos de um ano que ela estava em pé em meu quarto e disse "Um amigo é melhor do que pesos, um amigo que dá isso para você na cama" quando, de qualquer forma, ela ainda acreditava que conseguiríamos juntar nossos ventres torturados e nos livrar de um pouco de dor _ Agora tarde demais tarde demais.
TRISTESSA
(JACK KEROUAC - L & PM Pocket)
Desde tempos imemoriais e adentrando o futuro sem fim, os homens amaram mulheres sem dizer a elas, e o senhor os amou sem dizer, e o vazio não é o vazio porque não há nada para ser esvaziado.
Estás aí, Senhor estrela? - Suave é o chuviscar que perturbou minha calma."
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Tristessa está me segurando e aos poucos aproxima seu lindo rosto moreno do meu, com um sorriso precioso, e finjo quase deliberadamente ser o americano confuso - Olhe, eu ainda vou salvá-la -
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E faz menos de um ano que ela estava em pé em meu quarto e disse "Um amigo é melhor do que pesos, um amigo que dá isso para você na cama" quando, de qualquer forma, ela ainda acreditava que conseguiríamos juntar nossos ventres torturados e nos livrar de um pouco de dor _ Agora tarde demais tarde demais.
TRISTESSA
(JACK KEROUAC - L & PM Pocket)
Sunday, November 05, 2006
LIXO QUE NÃO É LIXO
LIXO QUE NÃO É LIXO
copiado do blog do Rui Werneck de Capistrano:
Um dia desses, andando com um papel de bala por quarteirões, lembrei do Rui Werneck, que criou a campanha "Lixo que não é lixo - se - pa - re". Curitiba tem este diferencial, este pudor que a gente tem de jogar papel no chão. Agora está lá no blog do Rui Werneck que a campanha dele e outra dele, do Clube do Zequinha concorrem ao prêmio de melhor propaganda dos últimos trinta anos no Paraná. Como eu nunca troquei figurinha, voto no lixo que não é lixo...
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blog do Rui, que além de publicitário é um grande escritor e poeta:
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"Aí, amigo! Ajude um publicitário: eu! Entre no site:
e vote numa das duas minhas campanhas publicitárias: Clube do Zequinha ou LIXO QUE NÃO É LIXO.Elas concorrem à melhor dos últimos 30 anos no Paraná. Sem dúvida, fizeram o maior sucesso. A do Zequinha movimentou o Paraná inteiro colecionando figurinhas do Zequinha. A do Lixo que não é lixo deu a Curitiba prêmios internacionais e foi reeditada agora, 16 anos depois, com sucesso. Curitiba inteira lembra da vinheta musical "Lixo que não é lixo/não vai pro lixo: SE-PA-RE!" E quem não lembra da figurinha difícil, a número dez do Zequinha? "
Saturday, November 04, 2006
vejo são josé
O jornal virtual independente - Vejo São José - de São José dos Campos - SP ( www.vejosaojose.com.br )editado pelo jornalista Ricardo Faria cedeu uma coluna para a Bárbara Lia, há algum tempo. Nesta semana, as palavras de Frei Betto no evento promovido pela Pastoral da Terra e Deptº de Filosofia da PUC, no dia 31.10. O tema - Uma outra democracia é possível.
http://www.vejosaojose.com.br/barbaralia.htm
http://www.vejosaojose.com.br/barbaralia.htm
Friday, November 03, 2006
as sereias
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Herbert James Draper
AS SEREIAS
Conforme o seu desejo, Ulysses fora atado
Ao mastro da galera enfeitado de rosas.
A marinhagem surda às águas marulhosas,
Procurava sondar o abismo ilimitado.
Nisto, Ulysses ouviu um canto amargurado
De sublime emoção, nas ondas luminosas,
Como jamais ouvira... E essas vozes maviosas
Fizeram-nos cismar, triste e maravilhado.
A galera vogava... As sereias surgiam,
Dos abismos do mar, soltando as louras tranças
Que nos ombros de neve as águas espargiam...
O canto dominava o oceano amplo e risonho,
E Ulysses e Eucharias as lembranças
Perderam, ao se perder no pélago do Sonho.
Guarapuava, 20.01.1.913
OTÁVIO CAMARGO
CRISTAIS SONOROS - 1.972 - Eleonora de Ângelis.
Eleonora, tia-avó da Bárbara Lia, inseriu em seu livro Cristais Sonoros, algumas poesias de seu irmão Otávio, que jamais lançou um livro. Ambos são irmãos da minha avó Antonieta, que "atormentou" minha infância recitando O Corvo, de Alan Poe, com requintes teatrais. Vasculhando na Biblioteca Pública, os ancestrais, entre eles Maria Cândida de Jesus Camargo (1.868-1.949). Alguma poesia de Maria Cândida no site:
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Vovó recita "O corvo".
Sala na penumbra. Tic.
Tac. Arrepios.
Bárbara Lia
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