Wednesday, October 31, 2012

Dia D


imagem: Wikipédia




Há 110 anos nascia Drummond, em Itabira (MG). O site Germina em uma publicação - Especial Dia D - o homenageia. Lembrei a leitura do Carlito Azevedo na FLIP, uma homenagem belíssima.



Tuesday, October 30, 2012

amanhã no museu guido viaro - curitiba


enquanto isto na 58° Feira do Livro em POA


5ª BookCrossing Blogueiro



Aderi ao 5° BookCrossing Blogueiros e vou começar a "esquecer" livros por ai. Um livro apenas entre os dias 08 e 16 de novembro - é pouco. Na última mudança separei livros que quero doar, então vou doar via esta poética atitude. Meu amigo Carlos Barros criou este movimento com outro nome lá pelo anos de 1994 /1995- era - tem poesia no meio do caminho - alguma coisa assim. Lembro que o Carlos era o campeão de projetos criativos. O Disque-Poesia era bem legal, a gente discava um número e ouvia um poema. O Buffet de Poesia, onde cada um escolhia os poemas para compor o livro que ia comprar, o primeiro projeto poético que participei na vida. Além de ter o dom de incentivar e mover e dizer pra uma mulher que lhe entrega o primeiro manuscrito escrito em sua vida: - Menina, tu és uma escritora - Carlos era um movimento vivo em prol da Poesia. Bons tempos. Foi ele que puxou o fio, que me tirou da gaveta, que jogou minha poesia em um projeto, à revelia do meu desejo e que incentivou a participar do primeiro concurso, que rendeu a minha primeira menção honrosa (crônica) na UBE/RJ em 1997. Então, hoje lembro o Carlos repassando livros e livros em minhas mãos. Lembro o meu caminhar sutil em cafés, praças, ônibus. "Esquecendo" belos livros pelo caminho. Lembro que foi em uma destas andanças com livros pela vida que caiu em minhas mãos - O amor nos tempos do cólera. E eu senti um desejo infindo de escrever belos romances, em estado de choque com aquela narrativa belíssima do García Márquez. Embora produzir um selo que contenha um recado simples assim: 
Este livro foi esquecido de propósito, quem o achar pode fazer o mesmo. "Esquecer" o livro em algum lugar - banco de praça, ônibus, shopping, cinema, lavanderia, bares, panificadoras, etc.

O movimento coordenado por este blog, pra quem desejar fazer parte:

http://luzdeluma.blogspot.com.br/2012/10/vem-ai-5-edicao-do-bookcrossing.html

Thursday, October 25, 2012

Enigma

uma palavra
que contém
outra palavra

uma dor
que agasalha
um céu

uma rota
que dá asas
e tira o ar

fotogramas
em flor 
de algodão

noir
sept ans
plus tard

roshanak:
a flor
dentro da árvore

21 gramas
alma beijo
e flor

kami
sky
kamikases
Bárbara Lia


Roshanak - palavra iraniana que significa - Pequena Estrela
Kami - no xintoísmo, ser com poderes que um ser humano comum não tem como: espíritos da natureza, protetores ancestrais... 




Sunday, October 21, 2012

Anaïs Nin




Hoje à noite eu o amo pelo modo adorável como ele me deu a Terra.
Anaïs Nin

Henry & June - Diários não-expurgados de Anaïs Nin (1931-1932) - L & PM Pocket

Friday, October 19, 2012

Aleluia, Back!

imagem do site CBN


Um gênio é um gênio é um gênio... 
É a frase que define para mim este poeta e cineasta nesta noite, depois de assistir ao filme - O Contestado-Restos Mortais.
A pré-estréia aconteceu hoje em Curitiba e Florianópolis. Dois Estados significantes para o cineasta e os dois Estados envolvidos na Guerra do Contestado. Recebi o convite do poetamigo para esta estréia. Sai do casulo para ir ao Crystal Shopping - Espaço Itaú de Cinema, com a certeza de que estava a caminho de uma experiência única. Desde o primeiro filme de Back até aqui isto ficou nítido para mim: Cada filme um mergulho no insondável e improvável. Não dá para prever nada, pois existe sempre uma superação do esperado. A isto eu chamo - O diferencial da Arte. 
O impacto de Cruz e Sousa - O poeta do desterro - despertou em mim esta espécie de febre de fã. Tenho esta mania. Se o livro de Camus - O estrangeiro - abalou meu coração em um inverno antigo, sai em busca de seus livros e tem sido assim com os meus autores favoritos. Não só com os livros, mas, sou capaz de ficar revirando arquivos para ir fundo em um drama, como fiz com a recente história dos assassinatos no Arizona e a insólita odisséia do garoto que foi para o corredor da morte aos dezenove anos e lá passou metade de sua vida até ser libertado para se tornar aquilo que sempre foi afinal, um escritor. E os escritores são estes caras loucos, desde sempre estranhos. Ser diferente em lugares onde a ignorância impera é quase um atestado de morte, enfim... Vivo a perseguir encantos. Este é o modo Bárbara Lia de ser e viver, perseguir o que a encanta. Meu encanto primeiro com Sylvio Back foi pela Poesia que puxou o fio com Cruz e Sousa e Helena Kolody (Babel da Luz). Fui em busca dos outros filmes e elegi Lost Zweig como o "meu mais amado", embora seja inegável a importância do impactante - Aleluia, Gretchen. Sylvio Back transita pelo mundo da poesia e do cinema alinhavando tudo e construindo este rico mosaíco. De quebra ele publica os roteiros de seus filmes e documentários. Suas pesquisas exaustivas e ricas fazem dele este cineasta incrível, mais de setenta vezes premiado. Uma usina viva. Pensamentos e ações e deslumbramentos e alumbramentos e gira a roda e volta o rio e lá está de novo a mesma trama em outra montagem. Um dia é a Guerra dos Pelados, no outro é Contestado - Restos Mortais. Vira e revira e escreve contos e poesias. A velha e boa poesia erótica com o requinte que ela necessita, sem fugir do encanto da poesia, sem resvalar para o tosco. Um exímio escultor dos versos recolhidos lá pelas gramas do Olimpo... Algum pacto com Eros, talvez. Trama nova a caminho - Angústia - de Graciliano Ramos. Um novo filme e aquela expectativa - Viver para ver Angústia. Em alguns dias depois da minha guinada para este caos que é viver por um fio por conta da hipertensão e otras cositas más, em muitos dias eu penso em quanto quero ficar viva para ver meu neto crescer, encontrar editor para meus livros, terminar meus projetos, conhecer lugares que ainda não conheço e também ver os filmes que estão a caminho... Angústia, por exemplo. Back, termine logo Angústia... Pedido de fã....
O Contestado - Restos mortais - Docudrama conduzido pela narrativa de historiadores, moradores da região - descendentes dos homens e mulheres que viveram aqueles dias e outros que eram criancinhas quando ocorreu o conflito - e a participação de médiuns em transe incorporados por personas que fizeram parte do conflito. Digo personas, pois tal qual o cineasta não sou Espírita. O que poderia ser o lado polêmico dentro desta obra acaba por trazer o toque de mistério final. Somando um  pouco mais ao que já existe de místico dentro do Contestado. As virgens e os monges. A certeza dos caboclos que entraram em uma espécie de êxtase coletivo, seguindo a cada etapa do conflito um líder religioso. A excepcional montagem deste filme conduz o expectador em uma vertiginosa maratona épica e mergulhos insólitos no coração de uma guerra insepulta.



“Como meus companheiros de vício, foi para discutir cinema que estudei teorias de linguagem, sociologias, psicologias, metafísicas várias que, de outra forma, nunca teriam me despertado o menor interesse. Naqueles ‘days of wine and roses’, todos sonhávamos em ser cineastas. Só um de nós, porém, foi com toda a força para cima do sonho. Esse mestiço alemão com húngaro, o ‘cacique do sul’, como o chamava o Glauber, que soube amar o cinema mais que todos nós”. 
Paulo Leminski


Entrevista com Sylvio Back na CBN
http://www.cbncuritiba.com.br/site/texto/noticia/Entrevista/8474

O Contestado - Restos mortais com lançamento agendado em cinco capitais: Curitiba e Florianópolis (19 de outubro), Porto Alegre (26/10), Rio de Janeiro (02/11) e São Paulo (23.11)

Wednesday, October 17, 2012

E ela o levou a caminhar na relva...











E ela o levou a caminhar na relva
Sentir na sola o orvalho das estrelas
Respirar o ar clorofila e alma de flores

Ela o levou enquanto ele estava lá:
Asas fechadas entre nove e doze pés
A relembrar indefectíveis passagens

O horizonte lilás desfazendo-se em lágrimas
O passo lento da busca pelo impossível
Os sonhos queimando acetileno nos cílios

Nenhum menino levará consigo como madeiro
Atado às costas em eternidade entranhada
Os erros dos dezesseis anos – Ele levará...

Um poeta no corredor da morte revira o caos
Retira os grãos da vida e os separa
Prepara a sopa da beleza em letras mínimas

Um inocente no corredor da morte a gritar
A vida dura é apenas vida dura – pense nisto
Dura é a vida que não dura sem motivo

Quando ela chegou ele ficou sem ar
A esperança eletrizada qual dança dos dervixes
A vida mergulhada em luz e sons de Paganini

O amor é uma aposta contra o nada
O nada é o futuro - a injeção letal
O dedo do fim a queimar feito vela acesa

O amor é uma luta contra o tempo
Girar a roda, convocar os navios
Aliar-se ao capitão dos mares

O amor é uma luta épica contra a morte
O amor é a candura e o eterno suporte
O amor é esperar e esperar e esperar

Até chegar o instante da Poesia
Andar na relva, na real chuva, na manhã anis
Mãos dadas com o menino da fotografia

Este que sabe da colheita predatória
E que inocentes morrem na câmara fria
E nem todos têm a sorte da visita fiel:
Um amor para dar asas e te levar pela vida...

...E ela o levou a caminhar na relva

Bárbara Lia
- 17/10/2012


(Poesia inspirada na imagem de Lorri Davis abraçada à foto do seu amor – Damien Echols – no tempo em que ele estava no corredor da morte, condenado por crimes que não cometeu)



Poesias de Damien Echols:



Passei cinco dias mergulhada na trajetória inacreditável deste caso - vi Paradise Lost 1, 2 e 3 e li que Damien Echols lançou recentemente o livro que ele escreveu no corredor da morte (onde passou metade de sua vida) - Life After Death. As críticas ao livro são boas e Damien tem talento literário, ao que parece. Johnny Deep comprou os direitos para filmagem. Atualmente em fase de filmagem a adaptação de outro livro escrito por Mara Leveritt - Devil"s Knot - com Reese WitherspoonColin Firth  no elenco.
Mais informações sobre este caso que gerou o movimento conhecido como West Memphis Three:

http://cinemasmorra.com.br/paradise-lost-a-trilogia-de-documentarios-que-salvaram-vidas/

http://wm3.org/







Friday, October 12, 2012

Helena


Caixinha de Música - Helena Kolody
SEEC - PR - 1996



Há cem anos nascia Helena Kolody. Entre os dias 08 e 11 a Biblioteca Pública promoveu a - Semana Helena Kolody 100 anos. Helena era meiga e calma. Nasceu em Cruz Machado, viveu em Curitiba, lecionou no Instituto de Educação. Nunca se casou, não teve filhos. Foi noiva e seu noivado foi rompido por ela, pois o poeta com quem ela se casaria tinha o hábito de beber. Helena viveu a poesia e conviveu com levezas. Abraçou isto para si e sua obra é o espelho de seus passos: Filosofia e beleza. Nada ralo, nada pobre. Era extremamente rica a alma de Helena e cada qual só pode dizer de sua própria alma. Um poeta não precisa escrever sua vida, ele pode ser lido em seus versos de forma nítida. A primeira vez que li um verso dela eu não sabia que era dela. Por muito tempo eu olhava para um muro extenso e escuro onde estava grafado o poema acima - Para quem viaja ao encontro do sol, é sempre madrugada. Como álcool que a gente pinga na ferida viva. Quando eu me atrasava e precisava ir voando para o trabalho eu chamava um táxi e perdia meu olhar naquele muro e um ruído estrondava. Gravei palavra a palavra. Naqueles dias eu havia me separado, meu pai e mãe haviam morrido, eu estudava Psicologia na Tuiuti. Estudei apenas um ano e desisti. Tinha três filhos e sustentava sozinha a casa, a escola das crianças, meu curso. Eu buscava outro caminho. Só não havia ainda me rendido ao que gritava em mim desde menina - A Poesia. Foi justamente a poesia que murmurou ecos, estrondou verdades. Para quem viaja ao encontro do sol... Eu vivia a escuridão do caos, os atropelos da vida, estava perdida. Sairia deste momento de perdas para os braços do Poema - Minha Madrugada. Este foi meu primeiro encontro com Helena Kolody - Um verso-recado em um muro marrom a questionar o caminho. Alguns anos depois eu fui ao lançamento de sua Antologia. Entrei no Teatro Londrina e esperei. Na fila com meu filho pequeno entre senhoras curitibanas com suas roupas finas e penteados e jóias. Eu vestia uma camiseta do Congresso de Poesia, um jeans surrado e destoava um pouco daquele cenário. Quando entreguei o livro para Helena ela olhou meus olhos de Poesia, a camiseta do Congresso de Poesia de Bento Gonçalves e disse: _ Você é poetisa. Eu disse que sim, embora até ali minha única aparição como poeta foi justamento no Congresso puxada pela mão pelo poeta Carlos Barros. A fila que esperasse. O domingo que fechasse as portas. Ela tinha algo a me dizer. Com calma enquanto escrevia com sua letra pequena - À inspirada poetisa - Bárbara Lia - ela deu um recado: Quando comecei a escrever eu guardava folhas de papel. Juntei muito papel A4 para imprimir meus livros. Não desanime com nada, vá juntando o material que você precisa para imprimir seus livros. Ela contou rapidamente sua experiência. Lição de vida, sem se preocupar com nada. Como se  no mundo existisse apenas ela e uma poeta que chega, um livro em uma das mãos e o filho na outra. Domingo de sol e o murmúrio de pessoas no Largo da Ordem. Aquele recado: Persevere, mesmo que seja preciso guardar ano após ano o papel para seu livro. Foi assim meu encontro com Helena Kolody. Quando trabalhei por algum tempo no IBGE, fechada em um lugar cheio de papéis e meninos universitários, conheci o neto do poeta que Helena amou. Com um orgulho nada disfarçado ele me disse que - poderia ser o neto de Helena Kolody. Contou-me que seu avô era o poeta que quase casou com Helena. Quase disse - Mas, se Helena se casa com seu avô - você nem existiria. Calei. Que importa as leis da biologia e a realidade se um sonho bonito vive na alma de uma pessoa. Eu apenas sorri ao quase-neto de Helena. 
Somos totalmente opostas - Helena e eu. Só a Poesia que passeia em nossas veias nos une. Meu único marido gostava muito de beber, não era o genro sonhado por meus pais, nosso casamento não foi adiante. O que eu sei de mim é que eu sou louca e Helena era luz. Eu vivo mais a minha humanidade: ela vivia mais a sua porção divinizada. Curitiba a ama e com razão. Alguns em Curitiba me detestam, nem sei se eles tem razão. Nada importa. Sempre quis mergulhar na realidade anímica nua e crua. Para ser eu mesma, eu dispo os véus, peço licença à Deus, mergulho em mim. Admiro quem não desgruda sua alma das coisas puras e quem consegue abdicar. Eu nunca abdiquei. Sempre abracei o risco e fiz questão de colocar à prova o meu sentir, o meu querer, o meu desejar... Sei que os anjos estão extenuados. Sei que dou muito trabalho a quem cuida de mim - se é que existe quem cuida da gente neste chão. Admiro Helena e seus versos que são diamantes rascantes. Vão tocando a alma e a carne e seus recados são ternos, são precisos, são a voz de quem passou a vida a meditar a mergulhar nas águas límpidas da beleza. Ah! Quem me dera cem anos e a paz do Paraíso. A mim restou o pequeno inferno e os barcos naufragados, esta poesia de chama e lágrima. Alguma luz que salta, uma flor votiva, uma canção dos Beatles ecoando ao longe. Um caminho de espinhos e uma cama serena. Amantes, primaveras, filhos. O meu poema é um grito sem resposta. Uma interrogação de aço. Minha alma casa mais com Frida ou Hilda Hilst, não deixa de esconder dentro, dentro, dentro, onde apenas alguns tocam, aquele sereno azul celeste da alma de Helena...

Thursday, October 11, 2012

Dulcinéia Catadora





Bárbara Lia e outros
H2Horas
jun/2010
(org. Pipol )

Deixo meu violão 
para a balconista da padaria.
A erva benta
para a velha do sobrado.
A chaleira 
que chia Villa-Lobos
para Frei Gustavo,
que costura almas
nas manhãs de quarta.
O livro de poesia 
de Augusto dos Anjos,
para o cobrador do expresso 022.
(Bárbara Lia)

Link para o vídeo H2Horas - aqui




Muito lindo o novo site da Dulcinéia Catadora - Integrei o projeto H2Horas - Antologia e Vìdeo organizado pelo Cronópios 

- link para o novo site:





Tuesday, October 09, 2012

Sunday, October 07, 2012

O Contestado - Restos Mortais: Uma guerra que assombra o presente!


O cineasta Sylvio Back e médium em transe - Foto Cláudio Silva



Foto - Cláudio Silva

O CONTESTADO - FOTO CLARO JANSSON - JAGUNÇOS




O CONTESTADO – RESTOS MORTAIS:
 REVELAÇÃO DE UMA GUERRA INSEPULTA


Coincidindo com a efeméride do centenário da Guerra do Contestado (1912-1916), violento conflito armado pela disputa de fronteiras (daí a expressão, “contestado”) e posse da terra entre Paraná e Santa Catarina, será lançado nacionalmente, a partir de outubro, o filme “O Contestado – Restos Mortais” (118 min., cor/PB), de Sylvio Back, o premiado diretor de “Aleluia, Gretchen”, “Yndio do Brasil” e “Lost Zweig”. O longa-metragem será exibido em cinco capitais, estreando em Florianópolis e Curitiba (19 de outubro); em seguida, Porto Alegre (26/10), Rio de Janeiro e São Paulo (23.11).

Tema já tratado ficcionalmente pelo autor em “A Guerra dos Pelados” (1971), hoje um épico “clássico” sobre a questão fundiária no Brasil, “O Contestado – Restos Mortais” é o inédito resgate histórico e mítico (através do transe de 30 médiuns em cena), iconográfico (inéditas músicas e filmes da época) e oral (a fala forte de descendentes dos rebeldes e de especialistas), dessa autêntica guerra civil nos sertões do sul até hoje submersa em mistério.

Envolvendo milhares de posseiros, pequenos proprietários, comerciantes, autoridades municipais, índios, negros, imigrantes europeus e fanáticos religiosos, e a nada surpreendente repressão do Exército e forças militares regionais associadas a "coronéis" e seus jagunços, o inesperado levante, que provocou a morte de mais de 20 mil pessoas, ensanguentou o centro-oeste de Santa Catarina durante quatro anos, num território do tamanho do estado de Alagoas.

História desconhecida

“Nesses quarenta e um anos que separam "A Guerra dos Pelados" deste "O Contestado – Restos Mortais", filmado entre 2008 e 2010 no próprio teatro de operações do Contestado, uma sensação de lesa pátria nunca deixou de me assombrar” – confessa Sylvio Back.

“Sim, não apenas como cidadão – explica –, mas por ser um cineasta cuja obra é seduzida pela ânsia de reverter falácias, compromissos políticos-ideológicos e o esquecimento militante da história oficial. Enfim, quão esquecidos, ignorados, omitidos, quando menos, minimizados, permanecem personagens, fatos & atos em torno da Guerra do Contestado. Seja junto à própria memória sobrevivente em Santa Catarina e no Paraná, seja pela indiferença com que é tratada no meio acadêmico e de sua explícita pouca importância no ensino escolar, portanto, da historiografia brasileira. O Contestado está se tornando invisível” – adverte Back.





O CONTESTADO – RESTOS MORTAIS

 

Filme de Sylvio Back



(Digital, Cor/PB, 118 min.)

Sinopse

Com o testemunho de trinta médiuns em transe, articulado ao memorial sobrevivente e à polêmica com especialistas, “O Contestado – Restos Mortais”, é o resgate mítico da chamada Guerra do Contestado (1912-1916). Envolvendo milhares de civis e militares, o sangrento episódio conflagrou Paraná e Santa Catarina por questões de fronteira e disputa de terras, mesclado à eclosão de um surto mes­siânico de grandes proporções.


Ficha técnica

 

Equipe 
Fotografia e câmara Antonio Luiz Mendes
Diretor assistente Zeca Pires
Som-direto Juarez Dagoberto
Montagem/edição Sylvio Back/PH Souza
Abertura/efeitos visuais Fernando Pimenta
Produção PH Souza
Produção executiva Margit Richter

Produção Usina de Kyno/Anjo Azul Filmes

 Pesquisas, roteiro e direção Sylvio Back

Apoio
Governo do Paraná
Secretaria de Estado da Cultura do Paraná
Governo de Santa Catarina
Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte
 de Santa Catarina
Universidade Federal de Santa Catarina
Fundação de Amparo à Pesquisa Universitária
(FAPEU-UFSC)
Secretaria da Cultura (UFSC)
Patrocínio
      Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL)
     Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR)
    Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC)
    Lei do Audiovisual
   Agência Nacional do Cinema (ANCINE)
 


Contestado, o que é?
                              (resumo histórico)
Sylvio Back

A Guerra do Contestado (1912-1916), o maior e mais trágico levante pela posse e contra a usurpação da terra no sé­culo XX no Brasil, com nítido substrato de fanatismo religioso, cunho separatista e ânsia de poder, e cujo desenrolar incendiou os estados do Paraná e de Santa Catarina, provocando a morte de mais de 20 mil pessoas, continua pouco estudado e reconhecido nas escolas e universidades, além de inteira­mente desterrado da historiografia e do in­consci­ente coletivo nacionais.

Inúmeras vezes associado à Canudos (1896-1897), dadas as raízes messiânicas, sociais e bélicas comuns, embora o viés geopolítico, multinacional, xenófobo e terrorista de luta nos sertões catarinenses os distancie, inclusive, pelo número de mortos e feridos, o Contes­tado soa como um acontecimento fan­tasma no processo civili­zatório brasileiro, em especial, do Sul.

Quando não é, inclu­sive, con­fundido com a Revolução Farrou­pilha (1835-1845) e com os Mucker (1872-1874), aquela, por­que chegou a estender seu raio de ação até Santa Catarina (Laguna e Lages), este, pelo fervor religioso que norteou seu nas­cimento e derrocada frente às tro­pas imperiais.

Há quase cem anos, exatamente em 1915, com a prisão de seu último lí­der, Adeo­dato, o chamado “Flagelo de Deus”, terminava a (ainda) tão mal co­nhecida e esparsamente estudada “Campanha do Contestado”, uma guerra civil sem pre­cedentes na História do Brasil, e que, durante quatro anos, entre 1912 e 1916, conturbou o Centro Oeste de Santa Catarina numa área do tamanho do Estado de Alagoas. Era esse o territó­rio rei­vindicado pelo Paraná, cujas fronteiras iam até a atual divisa do Rio Grande do Sul, e contestada no Supremo Tribunal Federal, daí a expressão, “Contestado”.

Numa violenta, épica e desigual luta fraticida, quando se chegou a cogitar o inédito uso da aviação para bombardear os revoltosos, antigos possei­ros e fa­náticos religiosos, que se reuniam nos chamados “redutos” (toscas cidadelas onde aceitavam uma “vida concentracionária”, rezando o dia inteiro, passando fome e na total insalaubridade, e até submetendo-se a castigos físicos) sob lideranças místicas e paramilitares que vinham de outras refregas institucionais da região, como a Revolução Federalista (1893-1895), que também almejava separar-se do resto do país.

Todos, juntamente, com pequenos fa­zendei­ros, er­vateiros e la­vradores, peões, deserdados de vários quadran­tes, comerciantes, profissionais li­berais, desempregados, imi­grantes, quilombolas, desertores e fugi­ti­vos da lei, se bateram (e revidaram com idêntica virulencia) contra a ex­plo­ração de empresas estrangei­ras aliadas a latifundiários, mer­ce­ná­rios e aos detentores do poder político e militar no Paraná e Santa Catarina.

E, depois, no ápice dos acontecimentos, do Go­verno Federal, com a entrada em cena do Exército (quase setenta por cento do seu efetivo nacional) em 1914, temeroso de que ali havia rastilho de retorno à monarquia, especialmente, quando se espalhou pela região em guerra a explosiva noticia da criação da Monarquia Sul-Brasileira, que se estenderia do Uruguai ao Rio de Janeiro.

O pivô de tudo foi a concessão de terras úberes e forra­das de pi­nheiros e outras árvores nobres à multinacio­nal Brazil Rai­l­way Com­pany (financeiramente monitorada pelo chamado Sindicato Far­quhar, hol­ding internacional do americano Percival Far­quhar, dono de um império ferroviário e de energia elétrica no país)  que, para cons­truir uma extensa e dispendiosa estrada de ferro, cor­tando, a partir de São Paulo, o Paraná e Santa Catarina até o Rio Grande do Sul, ganhou da República quinze quilôme­tros de cada lado do traçado. Um au­têntico maná.

No en­tanto, ao invés de povoar com colonos europeus as terras vizinhas à ferrovia, se­gundo obrigação contra­tual, a Brazil Railway decidiu otimi­zar seus lucros, cri­ando a Sou­thern Brazil Lumber and Colonization Com­pany, conhecida por Lumber – uma gi­gantesca serraria que rapida­mente trans­formou-se na maior da América do Sul.

Enquanto as discussões sobre fronteiras entre catari­nenses e para­naenses se arrastavam nos tribunais, os cons­trutores da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, os adminis­tra­dores da Lumber e os grandes proprietários de terras dos dois Es­tados (na época, “provín­cias”), investiam no au­mento de seus res­pectivos horizontes tanto para a extensiva expropri­ação das ri­que­zas naturais (araucária, imbuía, cedro, planta­ções de erva-mate, e pastagens férteis para o gado) como para a cobrança de impostos.
      
A expulsão da caboclada e que tais (milhares deles contratados no Nord­este e no Rio de Janeiro, sem trabaho após a con­clusão da ferrovia em 1910) de seus ranchos, plantações e pi­nheirais, fazia parte do ne­gócio. E para quem ocupava aqueles imen­sos e ricos sertões, título de propriedade era uma ficção ou então encarado com um instrumento dos “coronéis” para en­ganá-los.
Mas naqueles idos de 1912, quando a arbitrariedade no campo era mo­eda corrente, nem o latifúndio nem os estrangeiros conta­vam com uma súbita, depois grada­tiva, organi­zada e ferrenha reação armada dos espolia­dos. O alento provinha de um catolicismo rús­tico mes­clado a nebulosas convicções mitoló­gi­cas rememoradas por dois “monges” viandantes e curandei­ros, João e José Maria, cada um a seu tempo, líderes carismáti­cos convertidos pelos fiéis em “santos guerrei­ros”, mesmo de­pois de mortos. Instigado e munici­ado por cis­mas políticos regionais, o segundo deles, José Maria, que “vendia” fraudulentamente terras devolutas aos posseiros, pregava e prometia à multidão de seguidores a implantação de uma “mo­narquia celestial” (inspirado na mitológica figura de Carlos Magno) para se con­trapor à Re­pública, execrada como sendo uma “inven­ção do di­abo”, respon­sável pela fome, miséria e êxodo a que tinham sido condenados.   

No princípio revestido e travestido de um messianismo de corte ordeiro e autodefensivo, mas que logo foi evoluindo para uma luta de vida e morte tanto de caráter rei­vindicatório quanto de poder, com laivos terroristas na afir­mação social e en­frenta­mento béli­co – um ce­nário institucio­nal desconhecido numa re­gião até então rara e ralamente habitada.
Assim, a Guerra do Contestado acabou adubando com sangue e selvageria inaudita o chão onde antes vi­viam pacifica­mente milhares de famílias, de vez em quando visitadas pela Igreja, cujos padres, pura ironia, ora benziam as armas das tropas, como durante o conflito alcaguetavam ao Exército as prelazias dos caboclos para os ataques do general Setembrino de Carvalho, que desconhecia topograficamente a região.
Rodea­dos hoje por gigantescas e silenciosas extensões de pinus elliottii, onde antes se viam vastas po­pulações de animais silvestres, de pinheiro, plantações de erva-mate e milharais, cri­ação e lavouras de sub­sistên­ica, atualmente, cruzei­ros fan­tas­mas de “pelados” e soldados inse­pultos conti­nuam clamando por salvação divina e justiça terrena. –
O Diretor

Sylvio Back é cineasta, poeta, roteirista e escritor. Filho de Imigrantes hún­garo e alemã, é natural de Blumenau (SC). Ex-jornalista e crí­tico de cinema, au­todidata, inicia-se na direção cinematográfica em 1962, tendo escrito, dirigido e produzido até hoje trinta e oito filmes – entre curtas, médias e onze longas-metragens, esses, a saber: Lance Maior” (1968), A Guerra dos Pe­lados” (1971), Ale­luia, Gretchen” (1976), Revo­lução de 30” (1980), Repú­blica Gua­rani” (1982), Guerra do Bra­sil” (1987), Rádio Auriverde” (1991), Yndio do Brasil” (1995), Cruz e Sousa O Poeta do Des­terro” (1999), “Lost Zweig” (2003), “O Contestado – Restos Mortais” (2010); e “O Universo Graciliano” (2012, em finalização).

Tem editados vinte e um livros entre poesia, ensaios, contos e os argu­men­tos/roteiros dos filmes, Lance Maior”, Aleluia, Gret­chen”, Re­pública Guarani”, Sete Quedas”, Vida e Sangue de Po­laço”, O Auto-Retrato de Bakun”, Guerra do Brasil”, Rá­dio Auriverde”, Yndio do Brasil”, Zweig: A Morte em Cena”, Cruz e Sousa O Poeta do Desterro” (tetralíngüe), Lost Zweig” (bilíngue) e A Guerra dos Pelados”.

Obra poética: O ca­derno eró­tico de Sylvio Back” (Tipografia do Fundo de Ouro Preto, Minas Gerais, 1986); Moedas de Luz” (Max Limo­nad, São Paulo, 1988); A Vinha do De­sejo” (Geração Editorial, SP, 1994); Yndio do Brasil” (Poemas de Filme) (No­nada, MG, 1995); bou­doir” (7Le­tras, Rio de Janeiro, 1999); Eurus” (7Letras, RJ, 2004); Traduzir é poetar às avessas” (Langston Hughes traduzido) (Memorial da América Latina, SP, 2005), Eurus” bilíngüe (português-inglês) (Ibis Libris, RJ, 2006); kinopoems” (@-book) (Cronópios Pocket Books, SP, 2006); e As mulheres gozam pelo ouvido” (Demônio Negro, SP, 2007).

Com 74 láureas nacionais e internacionais, Sylvio Back é um dos mais premiados cineastas do Brasil. Em 2011, recebe a insígnia de Oficial da Ordem do Rio Branco, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, pelo conjunto de sua obra cinematográfica e de roteirista. – 


ATENÇÃO: ESCREVI UM TEXTO APÓS ASSISTIR O DOCUMENTÁRIO - PARA LER CLICAR AQUI: 

Aleluia, Back! 

Friday, October 05, 2012

Um dia sou prosa e no outro poesia


Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz

(Vida, Chico Buarque)



Quero mais!
Sempre penso nestas palavras do Chico. Sou um navio quase à pique que insiste em ir adiante. Nem que todos os barcos recolham ao cais... Sigo na maré cansada, o barco velho, um pesqueiro triste, mas como são belos estes peixes que a rede revela. Eu me sinto assim com minha vida e minha poesia. Nem o cansaço e a falta de saúde bloqueiam esta viagem para além das cortinas e os palcos infinitos. Sigo recolhendo as ideias nas manhãs sonoras. Os pássaros acordam a poeta em uma sinfonia bonita. Nas manhãs os poemas se apresentam, deslocam o silêncio assim que deixo a cama, como uma goteira que não cessa uma palavra se apresenta, outra palavra, um momento, a memória, o desejo, a interrogação, o susto, a beleza. E súbito um verso estendido diante dos meus olhos. Um dia sou prosa, no outro poesia. Os livros calados, precisam aguardar prazos dos concursos. Vou construindo dia a dia um pequeno arsenal. E o mais importante, só quando escrevo eu me sinto viva. Só quando um novo tema se apresenta e aquela alegria da descoberta faz ninho dentro de meu coração e cérebro, o sangue valsa e traz aquela sensação de euforia. Como quem tomou uma poderosa droga, o meu corpo experimenta as sensações do delírio, a euforia, o êxtase. Vida me leva longe, leva mais...

Thursday, October 04, 2012

o extracéu







Ontem, no extracéu, tomamos chá de anis
diante de um poente branco.
No extracéu não há noites e pássaros pousam
em nossa janela, enquanto tecemos mantos.
Você sorri, mais do que agora, e estrelas
fogem do céu-matéria para matarem a saudade
do teu belo riso italiano.
Vez ou outra congelamos uma estrela fugidia
e a colocamos na parede de nossa sala.
Bárbara Lia
in O sal das rosas (Lumme editor -2007)

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...